Ao nível da gestão de projectos, enquanto Winch (2006) e Koskela (2006) discutem se essa gestão deveria ser baseada em teorias da economia ou da produção, um debate que Winch acaba por considerar essencialmente conceptual, vai-se analisando a viabilidade de aplicação dos conceitos lean (Womack e Jones, 2003) à construção, teoria designada por Lean Construction (Koskela, 2000), e preparando uma visão da gestão de projectos que encara a construção como um sistema complexo.
Anderson e Schaan (1999), citando Brady e Shapiro (1999), abordam a temática dos sistemas de produção complexos (COPS), apontando uma distinção evidente entre a construção e as indústrias de produção em massa, assumindo uma visível separação entre a construção e o conceito lean.
Segundo Anderson e Schaan (1999), a indústria da construção é caracterizada por uma organização project-based, em que o produto final representa um produto complexo, resultante de uma dinâmica intensa em torno de diversos processos de integração, e não um produto standard resultado de uma possível produção em massa.
A diferença entre este tipo de sistemas e os clássicos de engenharia é principalmente que os primeiros não buscam apenas a previsibilidade, o comportamento estável e limitado por situações pré-determinadas, pelo contrário, buscam soluções inovadoras e capazes de se adaptarem facilmente (Minai, 2006).
Winch (2003) num artigo bastante consistente analisa de forma descomplexada a questão da aplicação de modelos de gestão de diversas indústrias à construção. De forma inteligente Winch começa por classificar os diversos tipos de produção, de acordo com as suas estratégias: Concept-to-order, Design-to-order, Make-to-order e Make-to-forecast. Este passo permite efectivamente clarificar algumas das inconsistências que vão surgindo no estudo sobre a gestão de projectos. Não é raro alguns autores defenderem as suas teses sem definirem bem qual o tipo de produção a que se referem.
Ao mesmo tempo, Winch lembra que os modelos de produção focam normalmente no fluxo do produto, no entanto, a atenção também deve cair sobre o fluxo de informação.
De acordo com a estruturação da produção que reconhece, Winch apresenta uma matriz de esquematização dos modelos de produção, que construiu baseado em alguns casos de estudo (citando Winch, 1994) e que se apresenta na figura 1.
Figura 1 – Matriz de enquadramento da produção
De acordo com Winch, para o tipo de fluxo de materiais verificado na construção, os sistemas complexos verificam-se para o caso da produção do tipo Concept-to-order e Design-to-order, e a referência à teoria lean é feita para o desenvolvimento de novos produtos, caracterizados por uma estratégia do tipo Make-to-order, envolvendo uma produção já sustentada por um projecto bem detalhado.
Esta matriz permite uma abrangência global do sector da construção, que, segundo Winch, na sua grande maioria é constituído por projectos complexos, enquadrados no canto superior esquerdo da matriz, podendo considerar-se uma abordagem lean, apenas no caso da produção intensa de edifícios.
Para Winch (2003) a relevância da gestão de projectos na construção incide sobre os sistemas complexos e a inovação organizacional.
A respeito da teoria Lean Construction, deve dizer-se que, nos últimos anos teve um impacto relevante no processo de Construção, sendo aprofundada por inúmeros autores (Ballard, 2000; Halpin e Kueckmann, 2002; Bertelsen e Koskela, 2002; Naim e Barlow, 2003; Ballard e Howell, 2003; Arbulu et al.,2003; Taguchi, 2004). Este conceito encara a produção como um processo de produção focado no produto, em que todas as acções devem contribuir para a maximização do valor e a optimização é encarada como uma eliminação das tarefas que não representam valor.
No âmbito da Lean Construction surgem no entanto algumas questões que podem colocar-se em causa. Ballard e Howell (2003) questionam o carácter iterativo do projecto de engenharia e consideram-no como waste, na terminologia Lean, e por isso de eliminar, referindo a DSM como uma das ferramentas que possibilita eliminação. Mas será que o carácter iterativo do projecto de construção é de eliminar ou pelo contrário deve ser considerado como parte integrante do processo?
Nos últimos anos, dois dos grandes apologistas da teoria Lean Construction, Bertelsen e Koskela começam a introduzir o conceito de complexidade em alguns dos seus artigos (Bertelsen, 2003; Bertelsen e Koskela, 2003). E em 2004, Bertelsen e Koskela (2004) estabelecem um ponto de viragem da teoria Lean Construction, após cerca de 10 anos de divulgação, assumindo que a teoria lean na construção representa um ponto de partida, e não um ponto terminal, como é encarado em outras indústrias, e que deverá permitir abranger a produção no sector como complexa e dinâmica.
A mistura de conceitos inerentes a diversas teorias é visível em diversas situações e acaba por ser pouco relevante, como salienta Winch (2006). Browning et al. (2000) por exemplo aplicam os conceitos de Womack e Jones (2003) aos sistemas complexos, referindo que a introdução de valor neste tipo de sistemas é conseguida através da produção de informação útil que signifique reduções efectivas no risco do desempenho do projecto. Neste âmbito é de referir a aplicação da DSM à optimização de sistemas e o seu impacto ao nível da duração e variância dos processos (Nebiyeloul, 2005).
É importante não deixar que os conceitos se transformem em preconceitos no desenvolvimento de teorias mais evoluídas. De momento a gestão de projectos parece aguardar por consensos alargados relativamente à complexidade da construção, e desafia as TI a participarem na flexibilização e dinamismo do funcionamento integrado das diversas
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Antonio Aguiar da Costa
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Referências:
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Ballard, Glenn; Howell, Gregory (2003) Lean Project Management, Building Research & Information, Taylor & Francis Ltd
Bertelsen, Sven (2003)Complexity – Construction in new perspective, Proceedings of the 11th annual conference in the International group for Lean Construction, Blacksburg VA
Bertelsen, Sven; Koskela, Lauri (2003) Avoiding and managing chaos in projects, Proceedings of the 11th annual conference in the International group for Lean Construction, Blacksburg VA
Bertelsen, Sven; Koskela, Lauri (2004) Construction beyond Lean: a new understanding of construction management, 12th annual conference in the international Group for Lean Constructio, Elsinore, Denmark
Brady, T. and Shapiro, G. (2002) Problems of Learning in Organisations Producing Complex Product Systems (CoPS), in Systems and Policies for the Globalised Learning Economy, Conceicao, D., Gobson, M., Heitor, M. and Stoip, C.(eds.). London: Greenwood Publishing Group
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Koskela, Lauri; Ballard, Glenn (2006) Should project management be based on theories of economics or production?, Building Research & Information, Taylor & Francis Ltd
Minai, Ali A. et al. (2006) Complex Engineered Systems : Science meets Technology, Springer
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Nebiyeloul-Kifle, Yonas (2005) Application of the Design Structure Matrix to Integrated Product Development Process, Master of Business Admnistration at MIT
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Winch, Graham M. (1994) Managing Production: Engineering change and stability, Oxford University Press
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Womack, James P.; Jones, Daniel T. (2003) Lean Thinking: Banish waste and create wealth in your corporation, Fully revised an updated, Simon & Schuster