quarta-feira, novembro 29, 2006

interoperabilizi… interoperacionali… interoperacibili…

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Texto de Miguel Krippahl também publicado no seu blog BIMbalhices.
Representa a sua visão pessoal, como Arquitecto, sobre a nova tecnologia de concepção de projectos, o BIM.
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Uma das grandes alterações que o BIM vem introduzir no método de fabrico de projectos é a interoperabilizi… interoperacionali… interoperacibili… o trabalho em conjunto.
Tradicionalmente, um projecto passa por várias fases e diversos intervenientes.
Desde o levantamento feito por topógrafos, o design do edifício por arquitectos, as especialidades (estabilidades, redes de águas, esgotos, eléctricas, telecomunicações e gás, para apenas mencionar as mais vulgares) e no fim as medições, para cada projecto é montada uma equipa multidisciplinar, com incumbências específicas, cujo trabalho de cada elemento influencia e é influenciado pelos outros elementos.
O método tradicional, herdado da prática analógica, consiste em fazer cada especialidade entrar num dado momento do projecto, recebendo o que vem de trás e informando os que estão a seguir.
Chamo a este método “o que vem a seguir que se amole”.
Basicamente, os erros e omissões vão passando de mão, na expectativa de alguém acabar por os resolver. Nem que seja o empreiteiro.
Cada especialista responsabiliza-se apenas pela sua parte, sem se preocupar excessivamente com a compatibilização entre os vários projectos.
Ao arquitecto cabe tradicionalmente o papel de coordenador, pelo menos na teoria. Com a crescente complexidade dos chamados projectos das especialidades, o arquitecto raramente tem conhecimento e oportunidade de realmente coordenar os trabalhos, delegando a compatibilização para os respectivos autores.
A própria velocidade a que os projectos têm que ser executados fazem com que os projectos sejam muito mais uma linha de montagem do que um trabalho de grupo.
Assim, problemas detectados numa fase avançada do projecto (por exemplo colisões entre a arquitectura e o AVAC) sejam extremamente difíceis de resolver sem pôr em causa os prazos de entrega.
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O modelo único tridimensional do nosso edifício, associado a uma base de dados alfanumérica, partilhado por todos os intervenientes, propõe resolver este problema.
A ideia será que todas as especialidades irão partilhar uma base única, em constante aperfeiçoamento. O trabalho desenvolvido pelo arquitecto, desde a primeira fase de concepção, estará acessível aos diferentes engenheiros, que irão ajudar na procura de soluções. Os projectos serão todos correlacionados, de modo a garantir a sua total compatibilidade. A autoria será partilhada por todos, assim como a responsabilidade.
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Soa bem, não?
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Claro que, para este cenário cor-de-rosa ser realidade, há que ultrapassar diversos obstáculos, a saber:
- O arquitecto não quer prescindir do seu papel de coordenador. Dá prestígio.
- Ninguém está especialmente interessado em poupar dinheiro ao cliente. Os extras (viagens, descontos, publicações ou mesmo dinheiro) que cada projectista recebe dos fabricantes dos materiais poderá ser posto em causa se as suas opções forem mais transparentes.
- Ninguém quer assumir a responsabilidade.
- Ninguém quer partilhar o seu trabalho.
- Ninguém quer submeter o seu trabalho à crítica dos demais intervenientes.
- Ninguém sabe realmente trabalhar em grupo.
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Claro que a maioria destes problemas depende da formação cívica dos projectistas, mas a sua formação profissional também contribui para a aceitação, ou rejeição do modelo BIM.
Como exemplo, podemos ver o trabalho que está a ser feito do outro lado do mundo, na Universidade de New South Wales, pelo professor Jim Plume, conforme apresentado numa recente
comunicação em Lisboa.
Os alunos dos vários cursos relacionados com a construção, planeamento, arquitectura, engenharias, paisagistas, orçamentistas e gestores de obra colaboram no mesmo projecto, simulando o (que deveria ser o) mundo real.
Se pensarmos como funcionam as nossas universidades, fechadas em capelinhas, depressa podemos concluir que o cenário em Portugal será bem diferente.
Por estes motivos, acho que implementar a interoperabilidade nos projectos será bem mais difícil que soletrar a palavra.

Autarca de Constância critica "gestão economicista" de barragens

Presidente da Câmara Municipal de Constância, António Mendes (CDU), criticou o sistema de gestão de descargas das barragens, considerando que são feitas "numa óptica meramente economicista".
António Mendes manifestou-se "angustiado e revoltado" face às cheias que afectam a zona ribeirinha de Constância, decorrentes do mau tempo dos últimos dias, lamentando que as descargas da barragem de Castelo de Bode "não tivessem sido feitas gradualmente" desde há duas semanas, altura em que "estava com um nível elevadíssimo de água"."Só quando se chega ao limite da capacidade é que se descarrega", disse o autarca, considerando que, se as descargas tivessem sido graduais ao longo dos dias, a barragem teria agora maior capacidade de retenção de água, o que evitaria eventuais inundações de zonas urbanas."É tudo feito a pensar, apenas, na produção de energia, esquecendo as pessoas e a natureza", desabafou.Segundo António Mendes, as cheias dos últimos dias (hoje ainda se verifica a inundação da zona ribeirinha de Constância) provocaram muitos estragos, devido ao derrube de árvores ou de torres de iluminação pública mas também pelo acumular de muito lixo nas zonas inundadas.Para as reparações imediatas, a Câmara de Constância pediu esta manhã o apoio de militares, esperando que uma equipa de uma dezena de homens se junte aos funcionários da autarquia nos trabalhos de limpeza e remoção de detritos que está a decorrer.O autarca defende a necessidade da realização de trabalhos sob a ponte da A23, que atravessa o Zêzere, "pois os pilares estão mal colocados, com a força da água a bater-lhes, a fazer ricochete e a provocar uma grande erosão nas margens, em terrenos agrícolas"."Este é um problema para o qual andamos há dez anos a chamar a atenção. Era bom que os técnicos viessem ao terreno, para verem como é", disse ainda o autarca.Segundo o Comando Distrital de Operações de Socorro de Santarém, o nível das águas dos rios na região está a baixar, mas ainda se mantêm o isolamento da povoação de Reguengo do Alviela, bem como a submersão das zonas baixas do Arripiado (Chamusca), Barquinha, Cais de Tancos e Constância.
Notícia do Público de 27 de Novembro

segunda-feira, novembro 27, 2006

Parcerias Público-Privado um perspectiva para o Futuro

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As Parcerias Público-Privado (PPP), trazem para o sector uma perspectiva de desenvolvimento forte, dada a maior possibilidade de investimento em infra-estruturas modernas e inovadoras. O surgimento destas parcerias (PPP) aumenta também a possibilidade de internacionalização, que se manifesta essencialmente através dos países com necessidades de renovação ao nível do equipamento urbano e fraco poder investidor, como são o caso dos países da Europa central e de leste, que têm mostrado bastante disponibilidade para legislar positivamente no sentido da aprovação das PPP.
Deve realçar-se, no entanto, que estas PPP obrigam a desempenhos elevados, parcerias e consórcios em total sintonia e flexibilidade máxima, e exigem modelos integrados de acompanhamento das infra-estruturas. A controvérsia da gestão do risco neste tipo de contratos obriga a que os projectos respectivos apresentem níveis de Qualidade Global elevados, no sentido de se evitar ao máximo as perdas.
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Este tipo de contratos, inicialmente utilizados apenas no sector dos Transportes, tornam-se hoje também uma solução para os mais diversos tipos de infra-estruturas, com evidência para o sector da saúde. Neste caso, um programa especial do tipo PPP foi já lançado, estando previsto o surgimento de 10 novos hospitais, cujo consórcio privado deverá ter responsabilidades ao nível da concepção, projecto, construção e manutenção da infra-estrutura (30 anos) e também ao nível dos serviços clínicos.
As Parcerias Público-Privado permitem que o investimento inicial por parte do estado seja mais reduzido, ou até inexistente, sendo negociado um tipo de pagamento, normalmente a 30 anos, que, por um lado é lucrativo para o Privado e por outro, permite que o custo seja disperso no tempo para o estado, que, desta forma, consegue tornar possível o projecto. No caso,por exemplo , da ponte Vasco da Gama, a Lusoponte foi o concessionário privado que ficou encarregue do investimento inicial, fazendo parte do acordo a possibilidade de exploração da ponte por parte desse concessionário.
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A visão relativa a este tipo de contratos não é, contudo, unânime,devido a diversos factores, nomeadamente no que diz respeito às responsabilidades do risco inerente ao projecto e ao facto de os investimentos obrigarem a uma visão a longo prazo da gestão do estado à qual, normalmente, não é dada muita importância.
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Referências:
Monteiro, Rui Sousa; “Public-Private partnerships: some lessons from Portugal”, EIB Papers, Volume10 Nº2, 2005
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António Aguiar da Costa

sexta-feira, novembro 24, 2006

Cálculo eléctrico assistido por computador

Contribuição para o SmartEngineering de Horácio Luís Baptista, Projectista na IDOM e administrador do site ForumEnergia.eu

“Corte no fornecimento de energia afectou esta noite vários países da Europa Ocidental, incluindo Portugal e o Norte de África. Não houve registos de incidentes, mas fonte da Électricité de France afirmou que "não se esteve longe de um apagão a nível europeu".
Jornal Público, 4 de Novembro de 2006

Na engenharia dos sistemas eléctricos de energia (SEE), o estudo do trânsito de potências é uma ferramenta essencial para garantir o correcto funcionamento das redes eléctricas nas situações de menor custo e maior segurança no abastecimento, por forma a evitar a ocorrência de apagões. Comporta análise numérica aplicada aos SEE. Contrariamente à análise de circuitos tradicionais, o estudo do trânsito de potências utiliza uma notação simplificada através de um diagrama unifilar e de um sistema “por unidades” (P.U.), e foca-se nos diferentes tipos de potência eléctrica (activa (P), reactiva (R) e aparente (S)) ao invés de unicamente na corrente (I) e na tensão (U).

Os métodos matemáticos utilizados no cálculo deste estudo são:
Método Newton-Raphson
Método Gauss-Seidel
Fast Decoupled (Desacoplamento Rápido)

Para a realização destes estudos, existe uma panóplia de programas de computador que fornecem uma ajuda capaz através da realização de cálculo matricial complexo.
Complementarmente ao estudo do trânsito de potências, alguns programas realizam outros tipos de análise como por exemplo simulações de defeitos ou análise económica. Alguns programas utilizam programação linear para calcular o Optimal Power Flow (OPF) que corresponde às condições de menor custo de exploração do SEE que são obtidas através de um trade-off entre o custo associado a cada MW gerado e à situação de perdas verificadas no sistema. Este estudo reveste-se de uma importância estratégica no planeamento de expansões a realizar nos SEE assim como na determinação da melhor situação de exploração da rede eléctrica.
Da variedade de programas disponíveis, ilustro os seguintes:

Power World Simulator

http://www.powerworld.com/


ETAP

http://www.etap.com/

DPlan (Criado e desenvolvido em Portugal pelo Instituto Superior Técnico)

quarta-feira, novembro 22, 2006

QIC2006 - Encontro Nacional sobre a Qualidade e a Inovação, LNEC

Está neste momento a decorrer o Encontro Nacional sobre Qualidade e Inovação na Construção, QIC2006. Refere o LNEC, promotor e anfitrião do evento, que "pretende contribuir para dinamizar, no meio técnico nacional, a discussão em torno de dois vectores essenciais para o desenvolvimento do sector da construção: a Inovação e a Qualidade".

A minha contribuição para o encontro é um poster que estará exposto em local próprio para o efeito, e que apresento seguidamente, e que pretende contribuir para a divulgação das novas tecnologias, principalmente do BIM (que já foi sujeito a referência em posts passados).

clicar na imagem para aumentar

segunda-feira, novembro 20, 2006

Engenharia Política II

Contribuição para o SmartEngineering de Carlos Oliveira Cruz, docente do Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico da UTL
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Esta pequena divagação não deve ser lida per si mas sim como continuação do artigo de 25 de Outubro de 2006, da autoria do António Aguiar da Costa, com o título Engenharia Política.

Com efeito, o autor termina o seu artigo da seguinte forma, e permitam-me que o cite:

Por outro lado, da mesma forma que o Nobel pretendeu salientar a importância da Economia Política, talvez faça falta pensar na Engenharia também segundo essa vertente. Tentar que ela penetre na sociedade e se mobilize política e socialmente. Olhar para a engenharia não só como uma indústria, mas como uma solução para diversos problemas da sociedade.

Efectivamente, e foram várias as conversas sobre este assunto tidas com o referido autor, a engenharia tende a assumir cada vez mais um papel transversal, abarcando diversas áreas desde as ciências exactas até às ciências sociais e políticas.

Dizia o Prof. Crespo de Carvalho, num artigo recentemente publicado, que tirou o curso de engenharia e nunca quis ser engenheiro.

Compreendo perfeitamente as palavras do Professor e rever-me-ia completamente nessas palavras, não fosse uma pequena nuance. Eu vejo-me como engenheiro, contudo não na concepção que infelizmente nos é incutida, e parece proliferar pela nossa sociedade impune às novas tendências mundiais, hermeticamente isolada dos desafios contemporâneos.

Os problemas são cada vez menos quantitativos, ou melhor, talvez o seu grau de quantificação não tenha diminuído, o que aumentou certamente foi a quantidade de variáveis não quantificáveis, ou pelo menos variáveis como um grande grau de incerteza associado. É redutor, imaginar a engenharia como um ramo das ciências exactas, onde se procuram soluções optimizadas para os diversos problemas quantitativas.

Exige-se dos engenheiros, não que procurem nos problemas actuais hipóteses para aplicarem o que aprenderam, mas a posição deve ser precisamente a inversa: olhar para os problemas, e procurar resolve-los com recurso ao que se aprendeu, se tal for possível dada o carácter limitativo da nossa aprendizagem, e por isso se necessário aprender de novo.

Talvez não tenha sido claro… O que isto significa na prática é que o ênfase deve ser colocado nos problemas, nos problemas reais, da sociedade contemporânea, e não na aprendizagem, ou em problemas herméticos criados nas brilhantes mentes dos engenheiros do betão.

Importa por isso elevar a engenharia e o ensino da engenharia, para outro patamar. Para um patamar que dote os brilhantes engenheiros do futuro com ferramentas e instrumentos que lhes permitam observar a complexa realidade de uma forma sistémica, na sua globalidade, e não centrarem a sua observação naquilo que pode ser quantificado, ou encaixado nos seus caixotes de conhecimento.

Na prática, significa que as nossas escolas de engenharia devem iniciar uma forte aposta nas áreas de sistemas, gestão, economia e ciências sociais, ainda que, com prejuízo para uma ou outra cadeira de materiais de construção.

Certo da existência de perspectivas diametralmente opostas, julgo importante continuar a discussão levantada pelo António Aguiar da Costa.

Carlos Oliveira Cruz

sábado, novembro 18, 2006

Monitorização estrutural

Contribuição para o SmartEngineering de Cristina Barbosa, Engenheira Civil da empresa FiberSensing - Sistemas Avançados de Monitorização, S.A



Olhando para o futuro e para o progresso do sector da engenharia civil, a observação do comportamento de estruturas surge como uma ferramenta essencial no aumento da rentabilidade e da inovação.
A monitorização possibilita o
desenvolvimento de novas técnicas construtivas, a utilização de novos materiais e o melhoramento de soluções estruturais, facilitando a calibração de modelos numéricos sem prejuízo da segurança para os utilizadores e para a estrutura. Por outro lado, a observação permanente de uma estrutura permite a criação de alarmes no caso de haver alterações de parâmetros excessivos e não esperados, ou até mesmo a avaliação do estado da estrutura para efeitos de reforço ou reabilitação.

No que diz respeito à manutenção das estruturas, podem definir-se dois tipos possíveis de intervenção: Preventiva e Essencial. Sendo a primeira aquela que é efectuada antes da estrutura atingir um estado de degradação acima dos níveis mínimos definidos e a segunda aquela que se efectua quando o estado de degradação da estrutura é maior do que o admissível. Actualmente, a segurança estrutural em estados limites tem vindo a ser garantida por inspecções periódicas, na sua maior parte visuais. No entanto, uma monitorização baseada em instrumentação, com uma enorme capacidade de automação, permite a detecção de anomalias de forma quantitativa, o que resulta em determinações precisas do estado de degradação da estrutura, permitindo decisões mais eficazes quanto ao momento e ao modo como se devem realizar as intervenções de manutenção.
Para garantir a integridade estrutural é necessária a definição de uma estratégia de manutenção que seja economicamente eficaz. A optimização desta estratégia obtém-se através da minimização do custo total espectável para a construção e manutenção, durante um período de vida útil máximo:


CTotal=CProjecto +CConstrução +CManutençãoPreventiva +CInstrumentação&Monitorização +CReabilitação +CFalha


Os custos que advêm da definição de um programa de instrumentação, a sua execução e manutenção são normalmente compensados pela diminuição do risco de falha, dos custos de manutenção e de reabilitação ou de diminuição de período de vida e construção de uma nova solução.


Para os mais interessados:


www.ishmii.org/
ISHMII International Society for Structural Health Monitoring of Intelligent Infrastructure. É uma organização não lucrativa que reúne as instituições líderes na monitorização estrutural. Podem-se encontrar guias, casos práticos e bibliografia sobre o assunto.

www.isiscanada.com/
ISIS Canada - Intelligent Sensing for Innovative Structures. Aqui pode-se encontrar desenvolvimentos recentes em materiais e em técnicas de instrumentação. São apresentados guias de monitorização estrutural, e exemplos de monitorização.

http://www.fibersensing.com/
FiberSensing – Sistemas Avançados de Monitorização, S.A. Empresa portuguesa de soluções de monitorização baseadas em sensores de fibra óptica. No site pode encontrar-se a história da empresa, produtos e serviços prestados.

terça-feira, novembro 14, 2006

Manutenção de Pontes

O Departamento de Transportes de Ohio patrocinou a execução de um manual de manutenção de pontes que é apresentado numa página criada para o efeito, e que merece uma visita.
Na área de Manutenção é uma iniciativa bastante interessante, pretendendo abordar de forma metódica esta temática, cada vez mais relevante para a Engenharia Civil.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Sector da Construção precisa de Inovação


Construção perde 1.100 empresas por ano desde 2003



O sector da construção civil e obras públicas perdeu, nos últimos três anos, 3300 empresas e 74 mil postos de trabalho. Segundo sublinha o Diário de Notícias, esta é a consequência directa da crise que afecta o sector e que resulta já numa quebra acumulada da produção de 20,6%.

«Depois de cinco anos de recessão vai seguir-se mais um ano de crise, pois duvido que, com os níveis de investimento previstos no Orçamento do Estado para 2007, o sector da construção tenha um ano de recuperação», sublinhou Reis Campos o presidente da AICCOPN à margem da sessão de abertura do I Congresso Ibérico da Construção Sustentável.

A situação é realmente preocupante. Não julgo, no entanto, que a solução seja o investimento económico do governo, numa altura em que as condições financeiras do país não são as melhores. Por outro lado, existem empresas que têm apresentado crescimentos bastante positivos, com desempenhos bastante bons, o que, de certa forma, quer dizer que existem possibilidades de evolução se a estratégia de crescimento for bem pensada. Recuperar o sector com base em investimentos do governo não me parece de forma nenhuma uma medidada sustentável.

Quanto a mim, o governo deve sim, definir políticas de gestão do sector da construção, definir directrizes de inovação, educar os donos de obra e a sociedade e sensibilizá-los para novas problemáticas planear estratégias de investimento futuro e impulsionar o rejuvenescimento do sector, impulsionando o surgimento de empresas jovens, tecnologicamente evoluidas e adaptadas ao Mercado Glogal.

Ás empresas cabe a adopção de uma estratégia de inovação e desenvolvimento mais activa e um planeamento de produção baseado num retorno com um prazo mais alargado do que o normal para sector. A prioridade, neste momento, deve ser o trabalho, para que, quando o país estiver em melhores condições económicas, a experiência entratnto ganha seja a razão de projectos cada vez maiores.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Sal estraga água da Serra

“Todos os anos são gastas centenas de toneladas de sal-gema para manter minimamente transitável a estrada da Torre, quando a neve cobre a Serra da Estrela a partir de Piornos.
Consequência dessas acções, ou talvez não, o facto é que estão a ser detectados níveis alarmantes de salinidade dos aquíferos mais próximos. (...) Tendo em conta que a água da serra é consumida por 43% da população Portuguesa, a associação sediada em Manteigas (Associação dos Amigos da Serra da Estrela) não duvida de que se trata de um problema grave e com reflexos sentidos dentro de umas décadas.” in Expresso

Esta notícia levanta uma questão importante que diz respeito ao constante acontecimento de situações deste género, em que a solução do problema acarreta consequências por vezes mais graves que o próprio problema.
O processo normal de actuação na resolução de um problema, é proceder à busca de uma solução que resolva esse problema de forma directa.
Neste caso concreto, o problema que surgiu foi a deposição de neve sobre a estrada e a consequente impossibilidade de continuar a executar a função para a qual foi concebida, e a solução encontrada foi o lançamento de sal sobre a estrada pelos limpa-neves.
Efectivamente o problema inicial fica resolvido, no entanto, este tipo de raciocínio leva a que a nova situação se torne descontrolada, menos previsível e, grande parte das vezes, não completamente resolvida.
Decidir o que fazer relativamente a um determinado problema não deve ser um acto isolado, apenas pensado com base nas suas consequências imediatas e directas.
Por volta de 1940 já as forças armadas Americanas estavam sensibilizadas para este assunto, estimuladas pela sua expansão espacial, tendo desenvolvido uma técnica de análise de projectos que designaram por Failure Mode Effects Analisys. Posteriormente na década de 70 a indústria automóvel reconheceu a importância desta ferramenta e começou também a servir-se dela como método de análise de projectos e de processos.
O método de análise FMEA tem como principal objectivo a análise de projectos baseada nos modos de falha. Este método reivindica que todos os modos de falhas, seus efeitos e causas sejam identificados, fazendo-se a mesma análise para as possíveis soluções encontradas.
A análise FMEA deve abranger todo o processo de falha, sendo desejável a representação, para cada falha, de um esquema de propagação da mesma, que poderá até permitir prever consequências de falhas que, à primeira vista, não seriam equacionados, assim como prever acções de correcção ao nível das diversas fases de propagação da falha.
No âmbito de uma análise FMEA, não se tomam decisões sem que as consequências das novas situações sejam avaliadas, situação que, na notícia em causa, não foi, de modo nenhum, tida em conta.
Não pretendo neste texto descrever de forma extensa este método de análise (poderá ficar para um futuro post), nem querer dizer que ele deveria ser aplicado a todas as decisões que se tomam, pois obviamente comporta estudos complexos e morosos, no entanto, pretendo evidenciar a importância de interiorizarmos o conceito, para, numa próxima vez, encontrarmos uma solução que não tenha consequências imprevisíveis e danosas, sem necessidade de isso acontecer.


Pensando, por exemplo, no caso dos Transportes, e nas grandes dificuldades que as pessoas têm para se deslocar nas cidades. A solução parece a todos ser o melhoramento dos meios, das redes, das infra-estruturas, o que é naturalmente importante, mas se tentarmos analisar as causas do problema, a forma como se originam os modos de falha e se propagam, talvez chegassemos a algumas outras conclusões relevantes,como sejam a necessidade de deslocalização de determinados serviços, de utilização mais intensa de novas tecnologias como meio de comunicação, de canalização de meios financeiros para outros pólos de desenvolvimento, situações que de uma maneira geral, contribuiriam para a efectiva diminuição de tráfego, em vez da opção por soluções de melhoramento de fluxo, que apesar de importantes a curto e médio prazo, não actuam sobre o tráfego, que, tendencialmente se prevê cada vez mais intenso, o que torna esta solução pouco sustentável.


segunda-feira, novembro 06, 2006

Efeitos do sismo "Loma Prieta" 1989

Collapsed section of the Bay Bridge after the Loma Prieta earthquake in 1989

Depois de uma análise ao sucedido, decidiu-se que o melhor seria a construção de uma nova ponte, mais resistente, que resistisse ao sismo que fez colapsar a Bay Bridge. Daqui surgiu o site com toda a informação sobre a nova ponte, incluindo informação adicional sobre sismos e um simulador bastante simples do efeito dos sismos sobre as pontes.
Informação sobre Sismos:
http://www.newbaybridge.org/classroom/earthmoves.html

Simulador dos efeitos dos sismos (curiosidade):
http://www.newbaybridge.org/classroom/engineeringfor.html

Mais informação sobre a ponte antiga pode ser encontrada no Wikipédia:

quinta-feira, novembro 02, 2006

Contributos para a Gestão de Situações de Seca


Contribuição para o SmartEngineering de Eduardo Vivas, aluno de Doutoramento em Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.


As Secas, embora comecem a assumir alguma importância ao nível da Gestão dos Recursos Hídricos, continuam a não ser totalmente consideradas como um desastre natural, muito provavelmente pelos seus efeitos não imediatos(= mediáticos).
De facto, de entre todos os fenómenos naturais, de cariz meteorológico, as Secas distinguem-se pelo seu lento mas progressivo desenvolvimento, pela sua duração que pode variar de vários meses até alguns anos e até pela área afectada, que resulta normalmente superior. Segundo os dados do relatório mundial da UNESCO – Water a Shared Responsability, concluído em 2005, os danos e prejuízos resultantes de situações de seca, chegam mesmo a exceder as consequências de outros fenómenos naturais, sendo também o tipo de evento natural em que a percentagem relativa de pessoas afectadas surge mais destacada.
À ocorrência cada vez mais frequente de anomalias das condições de precipitação, mais ou menos prolongadas, junta-se uma utilização crescente do recurso Água, para as diversas actividades humanas, aumentando claramente a vulnerabilidade da Sociedade Civil às situações de Seca. Tal facto tende a resultar em consequências de índole económica e ambiental bastante significativas, realçando-se o caso de actividades como a agricultura que, sendo o principal sector utilizador de água a nível nacional (cerca de 75%), acaba por sofrer consequências económicas especialmente significativas em situações de escassez, resultando de uma forma directa para os agricultores, e indirecta para os consumidores (subida do preço dos produtos alimentares).
Face a todas estas condicionantes, torna-se urgente que a gestão de situações de Seca passe a ser encarada segundo uma política de maior prevenção e previsão, focada no risco associado, e complementando a gestão mais operacional que é (e continuará a ser) realizada em cenários de crise.
Nesse sentido, começam a surgir os primeiros Sistemas de Previsão e Alerta (os chamados Early Warning Systems) que procuram proporcionar alguma capacidade de previsão e um acompanhamento mais próximo das situações de Seca.
Como bom exemplo, a nível mundial, surge o caso dos E.U.A onde existe já uma elevada experiência nesta temática (destacando-se o trabalho desenvolvido pelo National Drought Mitigation Centre -
http://drought.unl.edu/dm). Acaba por se revelar um modelo a seguir, não só na definição de políticas de gestão de Secas, mas também na aplicação dos referidos modelos de previsão e acompanhamento destas situações, tendo inclusivamente influenciado as principais orientações Europeias no arranque para a definição de uma política nesta matéria. De facto, ao nível da Europa apenas actualmente existe um maior alerta para esta problemática, sendo efectuada uma clara aposta numa Gestão mais pró-activa, versando os princípios de prevenção, previsão e preparação e na criação de Planos de Gestão de Secas, devidamente fundados nos referidos Sistemas de Previsão e Monitorização.
No caso específico Português, existe já um sistema de acompanhamento das situações de Seca (Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos – INAG, 2003), de âmbito nacional, desenvolvido e utilizado pelo INAG, Autoridade Nacional da Água. Este sistema, embora proporcione informação relevante tanto a nível meteorológico como hidrológico (níveis de escoamento em rios, albufeiras, águas subterrâneas, etc.) não permite, todavia, uma avaliação integrada do nível de severidade de Seca, o que acaba por dificultar o processo de tomada de decisão.
Na verdade, no Ano de 2005, muitas vezes nos era relatado nos meios de comunicação social que grande parte do território nacional estava perante uma situação de seca severa a extrema, quando na realidade não ocorreram impactos significativos para os principais sectores utilizadores.
Tal deveu-se ao facto de a informação que mais facilmente passou para o público em geral, referente ao índice meteorológico de Seca, ter essencialmente por base dados de precipitação, temperatura e de condições de humidade do solo, desprezando a capacidade de armazenamento existente nas albufeiras e águas subterrâneas, e que até acabou por se revelar capaz de superar, sem grandes dificuldades, as principais necessidades existentes.
Torna-se assim necessária a definição de um grau de severidade de Seca que atenda não só às condições meteorológicas, mas também à importância das reservas existentes e das utilizações a servir, impondo-se um maior desenvolvimento nesta matéria. Para isso, considerando a importância da utilização de indicadores no processo de Tomada de Decisão, bem como da criação de um conceito mais perceptível e mais consolidado de severidade de Seca, que facilite uma correcta sensibilização e consciencialização do público em geral, deverá ser assegurado o desenvolvimento de novos índices que permitam conjugar toda essa informação. Estes indicadores permitirão igualmente integrar um sistema de previsão e gestão de situações de Seca, tornando possível um acompanhamento mais consolidado das situações de Seca, com identificação dos níveis de severidade de seca e auxiliando a selecção de medidas mitigadoras respectivas.
Com um funcionamento integrado entre os Planos de Gestão de Seca, com um conjunto de acções e medidas devidamente previstas, segundo diferentes níveis de severidade de Seca e um sistema capaz de monitorizar de forma mais próxima do real os níveis de alerta e severidade de Seca, estaríamos a contribuir para que numa próxima situação de Seca o grau de preparação, e sobretudo de prevenção, possa ser superior, minimizando ainda mais as possíveis consequências e reduzindo o risco de escassez para as principais utilizações.
De qualquer forma, não obstante todo e qualquer desenvolvimento que se venha a realizar para uma gestão mais equilibrada de situações de Seca, é necessário que o cidadão comum (cada um de nós) tenha a noção do valor do recurso água, e da sua limitada disponibilidade. É preciso que todos tenhamos a consciência que, o simples facto de ter água ao abrir a torneira lá de casa, depende em grande medida da utilização (mais ou menos eficiente) que se faz deste recurso.
Para que não aconteça o cenário representado no spot divulgado no IV Fórum mundial da Água (ver em seguida), que teve lugar no México no passado mês de Março, promova-se uma utilização mais racional deste recurso!