sábado, setembro 30, 2006

Repensar as Classificações

Olhando de forma objectiva para o que se passa com a certificação energética dos electrodomésticos, verifica-se que há um problema intrínseco à modalidade de classificação que pode tornar o critério inviável no futuro. Veja-se que a eficiência varia entre as classes A (mais eficiente) e G (menos eficiente), sendo que para alguns aparelhos, como os frigoríficos, existem já classes A+ e A++.
(mais informações consultar http://www.ecocasa.org/index2.php )

Podemos imaginar, que as evoluções pretendidas ao nível de eficiência não devem possuir um limite superior rígido, pois idealmente essa eficiência deve ser sempre crescente, ainda para mais quando estamos a tratar de assuntos cujos conhecimentos estão em constante desenvolvimento.
Caso contrário, tal como está a acontecer com o exemplo referido, caímos no ridículo de obter classificações A+, A++, A+++, A++++, por aí adiante, que têm um impacto falível, menos evidente e pouco racional.

Assim, nesta fase inicial de implementação do Sistema de Certificação Energética de Edifícios, devem ponderar-se algumas considerações relevantes quanto a possíveis classificações a utilizar:
- Caso se pretenda identificar o desempenho energético de um edifício, ou de alguns dos seus componentes, à semelhança do que é feito para os aparelhos eléctricos, a classificação utilizada não deverá possuir um limite superior fixo;
- Tendo em consideração que a sociedade tem aumentado os seus níveis de formação, deve ponderar-se a utilização de um critério que tenha algum significado prático e pedagógico, no sentido em que a percepção do seu significado pode contribuir para a divulgação do conceito. Ou seja, se possível, deve utilizar-se um factor numérico, obtido a partir de considerações intrínsecas ao conceito de eficiência, em detrimento de uma classe, que não possui informação por si só.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Projectar com fiabilidade

O Projecto de Engenharia Civil está a sofrer algumas transformações. Já se falou de algumas delas em posts anteriores, como a sensibilização para o conceito de desempenho das infra-estruturas projectadas, a eficiência energética ou eficiência ambiental, mas existe um outro factor em crescente desenvolvimento. A manutenção e gestão das infra-estruturas, que surgem como disciplinas com contributos importantes para a sustentabilidade e segurança da sociedade.

Após muitos anos de incidência quase exclusiva sobre a criação de novos projectos, para os quais o surgimento do betão contribuiu de forma activa, envolvido por uma quase euforia de descoberta do composto perfeito, verificou-se que afinal as deteriorações são relevantes, e que, passadas algumas décadas, afectam o comportamento global da sociedade. O impacto, criado pela quantidade enorme de problemas graves de deterioração que surgem, nos dias de hoje, em catadupa, tal como foi caracterizado o surgimento de novas construções há algumas décadas atrás, é bastante visível, de difícil controlo e relevante para o comportamento salutar de uma sociedade.
Situações limite de edifícios completamente inabitáveis, especialmente nos centros das grandes cidades, realçam, que a par de políticas desadequadas, também o desleixo relativamente a falta de manutenção leva a situações de reabilitação intensas, bastante mais caras, que por isso contribuem para o avultado crescimento dos preços das habitações.

Casos como o da ponte de Entre-os-Rios levantam questões globais sobre o estado das pontes, por exemplo, e tornam a questão da sua gestão e manutenção uma responsabilidade social e económica.
No caso das pontes, a sua Gestão e Manutenção tem apresentado saudáveis desenvolvimentos, não só ao nível da organização de informação em bases de dados mais organizadas, mas também ao nível da optimização das acções de manutenção, das acções de inspecção e até ao nível da consideração em projecto de planos de inspecção e intervenção.
Nesta área surgem diversos autores bastante dinâmicos, salientando-se D.M.Frangopol, Presidente da International Association for Bridge Maintenance and Safety (www.iabmas.org), também Professor da Universidade de Colorado, que tem contribuído de forma intensa para desenvolvimentos importantes.
Em Portugal as Faculdades de Engenharia mais interessadas pelo tema são a da Universidade do Minho, através do Professor Paulo Cruz, a da Universidade do Porto, através do Professor Joaquim Figueiras e o Professor Raimundo Delgado e a do Instituto Superior Técnico, através do Professor Fernando Branco e o Professor Jorge de Brito, dos quais, convém referir a autoria do livro "Handbook of Concrete Bridge Management" editado pela ASCE Press (bastante completo e muito prático, infelizmente com preço demasiado elevado).

Na área dos edifícios têm também sido feitos esforços no sentido da sua gestão, manutenção, avaliação de desempenho, nomeadamente da parte do International Council for Research and Innovation in Building and Construction, tendo sido editadas, recentemente, publicações bastante interessantes com desenvolvimentos nesta área, referindo-se por exemplo as publicações, "Performance Based Methods for Service Life Prediction" e "Guide and Bibliography to Service Life and Durability Research for Buildings and Components".

sexta-feira, setembro 22, 2006

Certificar...Será uma nova moda?


No passado dia 20 de Setembro, no espaço da empresa Lisboa e-nova (Agência Municipal do Ambiente), o tema em debate foi a certificação Ambiental de Edifícios. A Arquitecta Lívia Tirone começou por dar início ao encontro, apresentando o convidado e o moderador, e frisando que o ponto de encontro era do tipo plataforma de diálogo contínuo. Não podería deixar de realçar a originalidade do conceito, que serviu apenas para distrair qualquer outra exigência de conteúdo.

Manuel Duarte Pinheiro, Engº do Ambiente, docente convidado do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do Instituto Superior Técnico deu então início à sua apresentação, que apoiada em diversas apresentações de investigações e trabalhos Americanos e Ingleses. Efectivamente apresentou aplicações práticas de conceitos de eficiência de edifícios, tanto em termos ambientais, como em termos de conforto e comportamento energético.

Muitos dos exemplos práticos que apresentou eram, efectivamente, empreendimentos de luxo, turísticos ou de defesa ambiental, todos eles caracterizados por um único factor: a necessidade de se publicitarem, o marketing.
Espero que estas novas exigências não sejam apenas "coisas de ricos", e que realmente possam ser encaradas como evoluções possíveis e necessárias a todos os níveis.
Idealmente, uma construção sustentável, de impactos ambientais reduzidos, olha para todo o ciclo de vida e considera que os recursos da construção são os materiais, o solo, a energia e a água.
A partir destes recursos, estabeleceu-se os cinco princípios básicos da construção sustentável(Kilbert):
1. Reduzir o consumo de recursos;
2. Reutilizar os recursos ao máximo;
3. Reciclar materiais do fim de vida do edifício e usar recursos recicláveis;
4. Proteger os sistemas naturais e a sua função em todas as actividades;
5. Eliminar os materiais tóxicos e os sub-produtos em todas as fases do ciclo de vida.

Para além de exposições gerais sobre o tema, foi apresentado o software que está a ser desenvolvido no IST, designado por LiderA (
www.lidera.info), um irmão mais novo de vários já existentes a nível internacional (BREEAM, Reino Unido; LEED, EUA; HQE, França; CASBEE, Japão), nos quais baseia o seu desenvolvimento.


- imagem retirada do site www.lidera.info


Citando Pinho (2005), o sistema LiderA assenta no conceito de reposicionar o ambiente na construção, na perspectiva da sustentabilidade, assumindo-se como um sistema para liderar pelo ambiente. Dispõe de três níveis: estratégico, projecto e gestão do ciclo de vida, tendo em vista permitir o acompanhamento nas diferentes fases de desenvolvimento do ciclo de vida do empreendimento.

Relativamente à certificação ambiental de edifícios, apesar de se estarem a dar os primeiros passos objectivando a sua aplicação, apenas se prevê a sua aplicação lá para 2010.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Certificação Energética de Edifícios


No passado dia 3 de Julho de 2006 entrou em vigor o Decreto de lei 78 a 80/2006 (RCCTE), transposição para Portugal da directiva Europeia do Desempenho Energético dos Edifícios (2001/92/CE). Em fase de iniciação de implementação, a confusão junto dos responsáveis é bastante grande, em questões tão básicas como quem poderá actuar no mercado, quais as regras para o funcionamento da certificação e qual a disponibilidade de cursos de formação. Julgo que surgirão ainda bastantes tomadas de posição, mas um passo importante se deu já rumo a uma engenharia sustentável.
É no entanto importante que os interesses económicos não se sobreponham aos interesses da nova Engenharia que está a surgir. Penso que seria primordial o surgimento de uma posição forte de uma entidade reguladora isenta.
A forma de intervir não está ainda bem definida, é certo, mas o decreto de lei publicado incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias e formas de projectar. A indústria dos tijolos cerâmicos está já a adaptar-se à nova realidade, estando a ser desenvolvidos novos tijolos de concepção nacional para substituir gradualmente os tradicionais tijolos furados, que oferecem uma protecção térmica muito limitada.
As áreas de actuação são bastante abrangentes, passando pelos novos materiais a desenvolver, pela revisão dos equipamentos, pelo controlo dos novos projectos, pelo controlo da construção, pelo estabelecimento dos critérios de desempenho do edifício ou pela actuação sobre o património construído que não deve também ser esquecido. Realça-se que não se deve focar esta nova engenharia apenas sobre as novas construções, arriscaria a dizer que a prioridade será até o património edificado, bastante mais disfuncional e ineficiente que as construções mais recentes.

Acrescentaria apenas mais uma consideração que poderá cair em esquecimento, a nova engenharia precisa de atingir não só os intervenientes directos no projecto e construção, mas também todo o resto da sociedade, alertando para o impacto que a sua sensibilização poderá ter nos objectivos de sustentabilidade que se pretendem almejar. Sistemas de visualização de consumos energéticos de fácil leitura, informação sobre a forma de interagir com os sistemas eficientes ou esclarecimentos sobre custos de ciclos de vida são alguns dos temas que devem ser abordados perante todos.

Performance Based Design

Um dos mais recentes desafios é, sem dúvida, a definição e quantificação da Performance das infra-estruturas.
A segurança, a estabilidade estrutural e a integridade global foram os principais objectivos que levaram ao desenvolvimento de normas e regulamentos para projecto, no entanto, surgem agora novas preocupações, principalmente a do controlo de riscos (desastres naturais, acidentes, ataques terroristas) e a da identificação da Performance da infra-estrutura.
A segurança e a integridade global, outrora as principais directrizes do projecto, não são suficientes para as exigências crescentes da sociedade.
A operacionalidade torna-se assim um factor que deve também ser tido em conta, pois uma falha poderá levar a perdas económicas importantes, desagrados sociais relevantes e a prejuízos internos vários ao nível das políticas sociais e económicas.
Da mesma forma, a sustentabilidade deve ser encarada como inevitável quando se concebe um projecto. Questões como a eficiência energética, comportamento térmico, poluição ambiental, utilização de materiais recicláveis, energias alternativas, criação de planos de manutenção e reengenharia (análises feitas durante a vida útil para verificação da adequabilidade do projecto), são temas prioritários e que merecem toda a atenção.
O projecto deve ser concebido com bases nas diversas preocupações anteriormente referidas, de forma a possibilitar atingir um nível de performance mínimo e controlando os riscos da forma mais completa possível. Estudos recentes, têm a vindo a desenvolver critérios de análises de desempenho, assim como ferramentas de apoio à decisão, algumas delas possibilitando a optimização com múltiplos objectivos (multi-objective genetic algorithm) dada a grande diversidade de preocupações existentes e possibilidades distintas de resolução dos problemas (Furuta 2006).

quinta-feira, setembro 14, 2006

BIM


Building Information Modeling (BIM) é um formato recente, que designa um conceito novo de concepção de um projecto, que permite ainda o apoio à sua construção e uma análise global de todo o empreendimento. Surgindo como "irmão mais novo" do velhinho formato CAD, que todos conhecemos, introduz uma nova lógica, a de integração de toda a informação num único modelo, com todas as vantagens que daí provêm, entre elas, a maior facilidade de detecção de erros, incompatibilidades, gestão da cadeia de produção , maior rapidez e economia.


Imaginar um único modelo 3D onde possam existir todas as especialidades, e onde todos os programas de análise das diferentes especialidades possam interagir, e ainda possa ser visualizado todo o processo construtivo com respectiva calendarização e completa informação de todos os materiais necessários, transmite realmente a sensação de que algo novo está a surgir.


Desde há alguns anos se tem procurado atingir níveis de interoperacionalidade elevados, e a prova disso está também no surgimento de uma classificação global que tem vindo a ser cada vez mais utilizada, para a organização da informação. Ou seja, o formato BIM representa um tipo de modelação global 3D que visa integrar toda a informação, mas para que outros programas possam compreender essa informação surgiu então a classificação Industry Foudation Classes (IFC) , uma linguagem de comunicação electrónica reconhecida pela International Standards Organization (ISO), e que constituirá uma base importante para a integração, cada vez mais eficiente, da cadeia produtiva.
Neste contexto de integração, interoperacionalidade, eficiência e melhor comunicação entre os diversos intervenientes surge então a possibilidade de procurar optimizar o projecto, pensando na sua eficiência energética (estão a ser desenvolvidos softwares de análise avançada), no seu impacto ambiental, no seu comportamento ao longo da sua vida útil, sua manutenção e diminuição de custos.

Reinventar a Engenharia

As crescentes exigências do Mundo Novo, que se apresenta com uma mentalidade renovada, encaminham a Ciência e o Desenvolvimento para uma maior inserção do Homem no meio envolvente, a par de uma também crescente necessidade de controlo desse próprio Mundo. Vive-se assim numa pequena faixa evolutiva compreendida entre o anseio pelo controlo do meio e o medo do seu descontrolo.

A Engenharia, outrora a arte de inventar e criar engenhos, ferramentas ao serviço do Homem, é agora mais do que isso: uma Ciência que pretende construir uma sociedade melhor, que não pode visar exclusivamente o Homem, e que deve, principalmente, procurar o seu desenvolvimento num meio que se considera como sendo bastante frágil e vulnerável, por isso com importância primordial.

O surgimento de um conceito novo de engenharia impulsiona uma preocupação necessária pela sustentabilidade, que pode ser procurada de variadas formas e deve ser anseada em todos os projectos.

Neste Blog tentar-se-á abranger-se alguns temas que sigam este raciocínio e solicita-se desde já a participação de todos os que se identifiquem com a este novo conceito de Engenharia.