terça-feira, outubro 31, 2006

O Projecto Beddington Zero Energy Development (BedZED)

Contribuição para o SmartEngineering de Horácio Luís Baptista, Projectista na IDOM e admnistrador do site ForumEnergia.eu

Quando se fala em eficiência e sustentabilidade na construção, o projectoBedZED (acrónimo de Beddington Zero Energy Development) tem que ser mencionado. Este projecto-protótipo localizado em Beddington, Inglaterra,foca e utiliza os aspectos mais eficientes do projecto e construção de moradias, chegando por vezes a aproximar-se vertiginosamente de áreas como a ficção científica. Foi projectado e construido entre 2000 e 2002.O projecto é do arquitecto britânico Bill Dunster e teve a sua génese na procura de uma forma mais eficiente de construir moradias em áreas urbanas. Bill Dunster e a sua equipa muniram-se das técnicas e dos materiais mais modernos e eficientes e produziram as 82 moradias, os 17 apartamentos e os 1400m2 de área comercial que constituem BedZED.


Factos:


- Foram instalados 777m2 de paineis solares e uma central de cogeração para fornecimento de calor e de electricidade. BedZED é energeticamente independente do exterior.
- As habitações estão orientadas a Sul e possuem isolamento térmico de elevada eficiência.

- A maior parte da água das chuvas é recolhida e reutilizada no local.

-Os materiais foram seleccionados de forma a estarem disponíveis num raio de 60km do local de construção, minimizando desta forma o impacto com o seu transporte.

- Os locais de estacionamento são limitados, mas os residentes partilham os automóveis.

- As necessidades de aquecimento são em cerca de 90% inferiores à média britânica. A utilização de água também é cerca de 40% inferior à média britânica.

- A energia utilizada diariamente por cada habitante (3kWh) é cerca de 25%inferior à média britânica e 11% dessa energia é mesmo produzida nos paineisf otovoltaicos instalados.

O caminho para a sustentabilidade é ainda longo, mas projectos desta tipologia, embora protótipos, mostram que a eficiência é possível e benéfica para a estratégia de desenvolvimento sustentável da população mundial. Este projecto nasceu em Inglaterra mas podia claramente ter nascido em Portugal,e creio que a aposta no (re)conhecimento e na formação de técnicos no nosso país será factor de decisão para que a construção evolua de forma a ser possível habitarmos todos nós casas que consumam menos recursos.

sábado, outubro 28, 2006

BIM II


Internacionalmente, os Donos-de-obra começam efectivamente a estar cada vez mais sensibilizados para a importância das novas tecnologias no processo de construção. Elas permitem uma maior organização de todo o processo, uma mais simples e eficaz coordenação dos projectos e uma visão mais optimizada da cadeia, facilitando a eliminação de tudo aquilo que não representa valor

Ao nível mundial, um dos exemplos que testemunha a inovação crescente ao nível da utilização das novas tecnologias é o projecto do Letterman Digital Arts Center. Este centro será localizado em São Francisco, no Parque Nacional Presidio. Este Projecto engloba 4 edifícios e um teatro e uma garagem com 4 pisos subterrâneos, com a capacidade de 1500 veículos.

Figura 1. Imagens obtidas por modelação virtual do LDAC

Novas Tecnologias aplicadas
No desenvolvimento do projecto, o gabinete “View By View” representou o Dono-de-Obra e actuou como coordenador de projecto e da construção, actuando assim ao nível das diversas especialidades. Neste caso a recorrência ao formato BIM deu-se numa fase final de projecto, pois grande parte tinha já sido concebido em 2D, no entanto agora, nesta fase, pretendia-se criar um modelo mais próximo do real e que fosse útil para fases posteriores do projecto e da obra.

Figura 2. O modelo BIM do Letterman Digital Arts Center.


Quando se elabora um projecto tridimensional, em que se pretende considerar a maior informação possível, é necessário que os diversos membros da equipa de projecto participem e colaborem: arquitectos, engenheiros de estruturas, mecânicos, electrotécnicos e hidráulica, fornecedores e produtores.
Nesse sentido, o pirmeiro passo foi a criação de um modelo estrutural 3D, ao qual se adicionaram os componentes de arquitectura, e só depois os elementos MEP (mecânicos, eléctricos e hidraulica). Este único modelo foi criado com a colaboração de todos os intervenientes, tendo sido criada uma ligação em rede entre eles, e implementado um processo de actualização do modelo e protecção da informação passada. Através deste método, a facilidade de comunicação foi incrementada significativamente.
O modelo de informação 3D possibilitou que alguns erros fossem detectados, alguns deles devidos a conflitos de desenhos 2D desactualizados, outros que surgiram devido a falhas na comunicação entre as diferentes especialidades.

Figura 4. A duas imagens da esquerda mostram os conflitos existentes entre a estrutura metálica da cobertura e as paredes do edifício. A imagem da direita salienta uma das soluções consideradas.

Figure 5. Exemplo de uma dificudade de coordenação na instalação dos elevadores, detectada e resolvida através do uso do BIM


O modelo 3D acompanhou ainda a construção do projecto, mostrando-se bastante eficaz na detecção de incoerências de projecto, apoiando também a construção no que diz respeito ao seu processo construtivo.
Contudo, nem todos os erros foram detectados, sendo a principal razão para isso o facto de o modelo integrado BIM, neste caso concreto, não ter sido produzido logo desde o início do projecto.

Figure 7. Um gráfico mostrando os custos implicados por incorrecções de projecto. Usando o BIM os erros foram detectados na zona laranja, caso contrário provavelmente apenas seriam detectados na zona vermelha.


Para além de permitir resolver problemas de coordenação de projecto, o BIM apresenta outras potencialidades:

-Utilização do Bim como base de apoio para a construção, visto que possui toda a informação necessária

-Simulação virtual de situações de emergência

Figure 9.Usando o BIM para verificar a acessibilidade dos parques subterrâneos.


- Simulação dos processos construtivos (4D simulation)

-Utilização do BIM para actividades de gestão e manutenção de infraestruturas

-Informação e imagens obtidas em artigo de Mieczyslaw Boryslawski (the Founder of View By View, Inc)

quarta-feira, outubro 25, 2006

Engenharia Política


O Nobel da Economia de 2006 foi atribuído a Edmund Phelps.
Perguntar-se-ão, porque é para aqui chamado o Nobel da Economia. Já lá vamos.
O Nobel atribuído a Phelps, segundo alguns especialistas, pretende premiar a relevancia e originalidade no seu tratamento dos temas, em detrimento dos aspectos mais técnicos. Na realidade, se pesquisarmos por Phelps nas buscas do Scholar do Google, aparecem 4600 citações de outros autores, valores bastante baixos comparativamente com outros prémios Nobel anteriores (Schelling:12800; Prescott:12900;Engle:14000).
Existem dois aspectos principais que devem ser referidos relativamente à obra de Phelps:
1) a produção de um manual de introdução à economia;
2) a elaboração de uma ousada proposta de política pública de intervenção no mercado de trabalho.

No que diz respeito ao primeiro ponto, o manual de sua autoria, apesar de apresentar uma qualidade bastante elevada, não foi, no entanto, dos manuais mais seguidos, incomparável com os sucessos comerciais de Samuelson ou Stiglitz.
É o segundo ponto que pretendo focar mais atentamente. Num dos seus mais importantes trabalhos, Phelps argumentara que a sociedade do conhecimento sobrequalifiou as competências e desqualificou o trabalho físico. Os baixos salários dos trabalhadores menos qualificados aumentou as desigualdades, e afastou da força de trabalho largas camadas da população, atirando-os para a dependência da assistência pública. Devido aos baixos salários não compensarem renunciar aos benefícios do sistema da segurança social, o emprego dos trabalhadores pouco qualificados tende a diminuir perigosamente. Em "Rewarding Work: How to Restore Participation and Self-Support to Free Enterprise", editado pela Harvard University Press, Phelps desenvolve o tema e apresenta algumas recomendações para o controlo da situação. Esta sua visão política sobre a Economia foi a razão do seu Nobel, que tenta demonstrar e evidenciar o desejo de impulsionar os conhecimentos na área da Economia Política.

Será interessante uma breve incidência sobre o trabalho de Phelps e o reconhecimento da importância do tema na perspectiva da Engenharia. Veja-se que a questão levantada por Phelps abrange também a mão-de-obra menos qualificada do sector, que tem diminuído bastante, sendo normalmente a solução a recorrência a trabalho imigrante. Esta não será contudo uma opção sustentável e que vise a Qualidade.
Por outro lado, da mesma forma que o Nobel pretendeu salientar a importância da Economia Política, talvez faça falta pensar na Engenharia também segundo essa vertente. Tentar que ela penetre na sociedade e se mob
ilize política e socialmente. Olhar para a engenharia não só como uma indústria, mas como uma solução para diversos problemas da sociedade.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Breve


Setembro de 2006
Autodesk reforça soluções para engenharia de estruturas com aquisição da Robobat


Segundo um comunicado, a aquisição irá melhorar a oferta actual da Autodesk nas áreas de engenharia de estruturas, especialmente no AutoCAD e Autodesk Revit Structure, mas é ainda referida a vantagem de integração das soluções para este sector.
A solução Robobat ROBOT Millennium já interagia com o Autodesk Revit Structure, tendo a empresa francesa já criado módulos de desenvolvimento em aço e betão para a plataforma AutoCAD.
Com a aquisição serão desenvolvidas novas soluções para a área de engenharia de estruturas que incluam a tecnologia das duas empresas.
Entretanto a Autodesk comprometeu-se a continuar a suportar a actual linha de produtos da Robobat, com mais de 10.000 licenças emitidas em mais de 100 países.

Para relembrar

Prémio IABSE 2004 e Prémio Secil 2001

Ampliação do Aeroporto do Funchal
Funchal, Madeira
Eng.º António Segadães Tavares

(imagem retirada do Google Earth)

quinta-feira, outubro 19, 2006

O conhecimento e a sociedade

Algumas das Universidades mais avançadas ao nível Internacional apresentam políticas de gestão semelhantes às de uma Empresa. É o caso do Massachusetts Institute of Technology, que apresenta uma ligação bem vincada à sociedade, com a qual interage e na qual participa activamente.

Na óptica do MIT o conhecimento sai obviamente favorecido com a opção por esta política. As necessidades da sociedade estimulam a investigação e o desenvolvimento, e, por outro lado, a interacção com a sociedade permite obter meios mais capazes, nomeadamente ao nível económico, que fomentam o próprio conhecimento e o estatuto da Universidade ao nível internacional, que traz, certamente, mais valias.


Podemos pensar ainda que a sociedade pode representar também um bom feedback relativamente à qualidade e interesse da investigação levada a cabo pela própria Universidade, indicando o caminho para as reais necessidades de desenvolvimento e inovação.


Em Portugal, esta mentalidade não está ainda completamente inserida no meio académico, talvez devido a receios de corrupções sobre a visão do que deveria ser o trabalho de uma Universidade, isento e livre de interesses exteriores. A verdade é que o conhecimento deve ser comunicado, partilhado, para permitir novos desenvolvimentos, logo as relações com o exterior devem ser estimuladas, e não evitadas. O fluxo de informação é necessário para que os objectivos das partes interajam e evoluam.


A este respeito surge uma notícia recente sobre a colaboração da empresa Martifer, sub-holding da Mota-Engil que tem focalizado interesses nas energias renováveis, e a Universidade de Aveiro. As duas partes assinaram um protocolo visando a criação da Martifer Inovação no campus universitário.

Desta forma pretende criar-se um grupo de investigação e desenvolvimento nas áreas das energias renováveis que possibilte a comunicação do meio universitário com o mercado real. Na carteira de projectos estão protótipos para produzir energia a partir das ondas, biocombustível de segunda e terceira geração e soluções de armazenamento de energia. “Pretendemos contaminar o ambiente universitário com projectos reais, que os alunos [recém-licenciados, bolseiros e investigadores] sintam a vontade de empreendedorismo, aceitem correr riscos e cumprir prazos. Só pode correr bem”, afirmou Carlos Martins, presidente da Martifer, na sessão que decorreu no Universidade de Aveiro e que contou com a presença de Manuel Pinho, ministro da Economia e Inovação, entre outros governantes, académicos e empresários.

Helena Nazaré, reitora da UA, destacou o papel da universidade na formação de recursos humanos, com cursos e mestrados nas áreas da energia, gestão ambiental e eficiência energética e salientou que “o país e a região de Aveiro precisam que a UA se envolva para solucionar a enorme dependência energética”. Na sessão foi ainda assinado um contrato de investimento entre o IAPMEI e a Earth Life, empresa que integra investigadores da UA e se propõe construir painéis solares inovadores na zona industrial de Ovar.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Borracha reciclada de pneus usada em 250 quilómetros de estradas portuguesas

Pensar a longo prazo, almeja a sustentabilidade e auto-suficiência, são objectivos que se colocam cada vez mais em cima da mesa, relativamente aos mais variados assuntos. Nos dias de hoje, verificamos que o Mundo onde vivemos não está estagnado, pelo contrário, ele reage de forma intensa à intervenção do Homem, e por isso mesmo somos nós que temos que repensar essa intervenção.
Para além de outros conceitos já referidos aqui no Blog que abrangem uma visão de longo prazo de redução de impacto, como a eficiência energética, a análise de risco, a manutenção e gestão de infra-estruturas, surge também no sector da Construção o conceito de reciclagem. A constatação de que uma infra-estrutura tem um fim de vida, e que a possibilidade de reutilizar os seus constituintes pode efectivamente significar reduções de impacto no meio envolvente começa a tornar mais atractivo o conceito de reciclagem.



Relativamente à reciclagem aplicada às vias de comunicação, refere a Agência Lusa que duzentos e cinquenta quilómetros de estradas portuguesas foram construídas ou recuperadas desde 1999 com borracha reciclada de pneus velhos, um projecto desenvolvido pela empresa Recipav, do grupo Águas de Portugal.
Nos últimos sete anos foram produzidas 16.700 toneladas de Betume Modificado com Borracha (BMB), através da reutilização de 640 mil pneus.Em Portugal, o BMB utilizado incorpora menos de dez por cento da mistura aplicada na construção ou reconstrução dos pavimentos.Para uma estrada comum utiliza-se o equivalente a cerca de um pneu por cada metro quadrado de estrada, ou seja, quatro mil pneus por quilómetro.A Recipav defende que a utilização de BMB - que junta borracha ao betume - tem várias vantagens face ao betume tradicional, nomeadamente um aumento na resistência ao envelhecimento e na elasticidade, diminuindo o aparecimento de fissuras à superfície dos pavimentos.Segundo estudos da Recipav, o BMB reduz os custos de manutenção dos pavimentos e aumenta o atrito no contacto pneu/pavimento.

Em Portugal o uso dos pneus tem tido papel de destaque, uma vez que não existem outros destinos para aquele resíduo para além da queima nos fornos das cimenteiras (co-incineração). A sua colocação em aterro foi proibida há pouco mais de dois anos.A utilização do BMB tem sido acompanhada pelo LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil, que elabora estudos e acompanha as obras que utilizam aquele resíduo.A utilização de borracha no pavimento de estradas começou nos anos 60 nos Estados Unidos, na África do Sul e na Austrália, tendo por objectivo limitar a utilização de recursos naturais na construção das estradas.Alguns países estão também a aplicar na construção de estradas produtos resultantes das demolições de prédios, da fabricação de plásticos, escombreiras resultantes da produção dos mármores, cinzas das centrais de alto forno.Para a próxima quinta-feira, em Lisboa, está marcado um seminário sobre "Pavimentos Rodoviários Verdes", que vai reunir responsáveis de empresas como a Estradas de Portugal, a Brisa e as maiores construtoras, contando ainda com a presença de especialistas estrangeiros.


A reciclagem será obviamente um dos parâmetros a ter em conta no âmbito da reinvenção da Engenharia, e será aplicada às mais diversas áreas do sector. Será certamente exigida por cada um de nós, pela sociedade e pelo meio onde nos inserimos.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Desaceleração dos custos de construção de habitação nova e dos preços de manutenção e reparação regular da habitação


Em Agosto de 2006, o índice de custos de construção de habitação nova no Continente registou uma variação homóloga de 3,3%, 0,5 pontos percentuais (p.p.) inferior ao verificado em Julho. O índice de preços de manutenção e reparação regular da habitação no Continente apresentou uma variação homóloga de 3,6%, 0,2 p.p. inferior à variação do mês anterior.

Nas imagens seguintes apresenta-se a evolução dos Índice de Custos de Construção de Habitação Nova e Índice de Preços de Manutenção e Reparação Regular:


(Informação fornecida pelo Instituto Nacional de Estatística)


Análise sucinta dos gráficos apresentados

Uma análise breve indica-nos que o comportamento do índice de custos apresenta uma oscilação do tipo sinusoidal, bastante evidenciada no primeiro gráfico e menos evidente no segundo, sendo o seu período, para os índices de custos de construção nova aproximadamente igual a 1 ano. No caso do segundo gráfico a variação não é tão simples não surgindo um período evidente de mudança de fase.

Relativamente aos índices de Construção Nova pode dizer-se que não apresentam variações sazonais importantes e que a sua amplitude de variação parece estar a diminuir, o que pode querer indicar uma necessidade de reajuste da variação.

Por outro lado, ainda relativamente ao primeiro gráfico, observa-se que a amplitude do custo dos materiais é superior ao da mão-de-obra, o que se compreende devido à maior especulação do mercado relativamente às matérias-primas e ao custo da energia associada à sua produção.

Concretamente ao índice de Preços de Manutenção e Reparação Regular da Habitação verifica-se que a tendência é de crescimento deste índice (veja-se linha de tendência a vermelho no gráfico seguinte que une pontos mais baixos do índice Total).




Esta tendência crescente poderá alertar o mercado para a maior sensibilização das necessidades de Manutenção e Reparação, que ganharam, nos últimos anos, uma maior visibilidade e têm sido alvo de maior procura. No entanto, a maior procura não estará ainda a ser compensada com uma maior oferta, no meu ponto de vista, o que tem levado à elevação dos índices de custo. No caso dos produtos este crescimento tem sido bastante considerável, apontando-se esta área de mercado como sendo bastante atractiva num futuro próximo.

segunda-feira, outubro 09, 2006

A Universidade e a Reinvenção da Engenharia

Deve a Universidade acompanhar o Presente ou preparar o Futuro?
E quais serão os temas do Futuro?

Há uma série de questões que se levantam no âmbito do Ensino Superior que devem realçar-se, algumas delas prendendo-se com alterações ao nível do mercado actual, ou alterações nas suas perspectivas de desenvolvimento futuro, outras ainda com a forma como a sociedade acompanha esse desenvolvimento, nomeadamente a sociedade Portuguesa.

Gostaria de realçar dois pontos principais que abrangem estas problemáticas e que, quanto a mim, evidenciam a necessidade de actualização do Ensino Superior, e que passo já a definir:

1 - A informação e a sua partilha apresentam uma nova concepção;

2 – A experiência tem demonstrado novas necessidades de desenvolvimento do sector;

Antes de passar ao desenvolvimento de cada um dos pontos, queria congratular o acordo que foi feito, recentemente, entre o MIT e o Governo, que abrangerá algumas Universidades Portuguesas (ver notícia aqui), e queria ainda referir que Bolonha poderá também representar um passo importante em algumas futuras reformas do Ensino Superior, e por isso o encaro com alguma expectativa.

Ponto de pensamento 1:

É evidente que hoje em dia a informação tornou-se muito mais acessível, e para além disso, o acesso a ela muito mais rápido. Mas o que poderá isto representar?
Bem, o que se passa é que o conhecimento profundo da informação armazenada ao longo do tempo torna-se dia-a-dia menos relevante. O que quero dizer é que a necessidade de memorizar o máximo de informação desse tipo não é, nos dias de hoje, o mais importante. Relembro que por várias vezes, durante o curso de Engenharia Civil, muita informação foi fornecida e por mim absorvida, mas hoje sinto que, dada a facilidade de acesso a ela (e actualizada), teria sido mais proveitoso ser sensibilizado para as técnicas modernas de tratamento dessa informação, de análise e processamento. É essa informação que é mais difícil de obter e de gerir.
Por outro lado, a necessidade de dominar técnicas de tratamento de informação e análise, cresce de forma importante. Conhecer o funcionamento do software existente, conhecer os modelos de optimização, os sistemas de integração ou de avaliação de riscos tem-se tornado temas principais de desenvolvimento.

A informação está cada vez mais livre e o seu acesso apresenta uma tendência de ser liberalizado, o que permite que qualquer um de nós consiga aprofundar os seus conhecimentos que estejam guardados em bases de dados. É obvio que deve sempre compreender-se a base das disciplinas, mas a incidência maior deve ser feita, quanto a mim, nas técnicas de aplicação e análise.
Numa breve alusão aos nossos tão bem conhecidos computadores, se imaginarmos que a nossa memória está dividida em RAM e ROM, então hoje em dia a ROM deverá ocupar a maior parte da nossa memória do nosso cérebro.

Falei anteriormente em liberalização da informação e neste contexto gostaria de colocar uma questão: Se imaginarmos que os trabalhos dos alunos e investigadores, teses, publicações, estivessem disponíveis para todos não seria muito mais intenso o desenvolvimento? E não será esse o objectivo?
Claro que surge uma questão, como se paga aos investigadores que doutra forma venderiam as suas publicações? Bem, aqui há que compreender que nem todos os investigadores pretendem ganhar dinheiro com as publicações, e neste último caso não haveria problema de possibilitar o acesso a toda a informação. Na situação daqueles que pretendem vender o seu estudo, porque não cobrá-lo de forma posterior? Ou seja, se o trabalho for citado ou de alguma forma referido, então aí é que se pagariam os direitos de autor, pois a informação foi utilizada por outrem. Mas porquê pagar para aceder à informação se ela poderá até vir a não ser proveitosa? (Esperemos que um dia o Google um dia resolva isto!)

Ponto de Pensamento 2:

O mundo profissional tem apresentado mudanças. Surgem necessidades recentes de:
- Técnicas de Gestão da cadeia de produção mais avançadas;
- Concepção de infra-estruturas para tempos de vida mais alargados, considerando a sua degradação, manutenção, acções de inspecção e métodos de detecção;
- Concepção de infra-estruturas que sejam fáceis de construir e o mais recicláveis possível;
- Planeamento logístico das cidades aplicando métodos de previsão e medidas proactivas visando a sustentabilidade das mesmas;
- Estruturação de redes de transportes eficazes e interfaces que as tornem atractivas;
- Integração das diversas vertentes da Engenharia em torno da cadeia produtiva;
- Análise e prevenção de riscos;
- Eficiência energética , aproveitamento de recursos e redução de emissões de CO2;

Existem exigências crescentes que obrigam a uma reinvenção da Engenharia que deve abranger também o Ensino. Os Engenheiros devem sair das Universidades mais sensibilizados para estas novas necessidades, e acima de tudo, com possibilidades de inserção no mercado mais desenvolvidas.


Ainda há muito para fazer não há?

terça-feira, outubro 03, 2006

Gestão? Qual Gestão?

Sistemas de Gestão integrada

Actualmente os projectos mais bem sucedidos são alcançados através de um processo construtivo não fragmentado, focalizado nas necessidades do cliente e desenvolvendo o produto apenas nos aspectos que poderão significar um valor acrescentado para o cliente (“Value Management”), abrangendo uma preocupação com sustentabilidade e o ambiente.
A indústria da construção funciona normalmente como uma sequência de operações separadas, executadas por projectistas, construtores e fornecedores, que muitas vezes não apresentam relações de responsabilidade entre si no que diz respeito ao desenvolvimento do valor do produto e da eliminação de perdas, tornando-se o sistema de produção pouco eficiente e algumas vezes pouco coerente.
Cada interveniente visa melhorar o desempenho da sua tarefa, mas nem sempre o desempenho global. Urge mudar-se esta mentalidade. A cadeia de produção deve ser integrada em torno de uma valorização do produto e optimização do processo, através de associações bem definidas entre os diversos intervenientes, numa consciência de obtenção de rentabilidade e competitividade, em que o cliente deve também sair beneficiado. A integração da cadeia de produção obriga que haja uma consciencialização da importância das parcerias e associações entre intervenientes e da necessidade crescente de estímulo para a criação de relações abertas e comprometidas com o desenvolvimento. Uma equipa que não trabalha unida com alguma regularidade apresenta obvias dificuldades de aprendizagem e a sua capacidade de mudança e inovação é praticamente inexistente numa estratégia a médio/longo prazo.
Deve notar-se que, para se conseguir que a cadeia tenha um desenvolvimento transversal ao longo dos seus intervenientes, para que todos assumam responsabilidades na Qualidade Global do produto entregue ao cliente, devem existir contínuas avaliações de performance dos diferentes intervenientes, que sejam eficazes, transparentes e focados sempre na Qualidade Global. O trabalho de um arquitecto não deve ser apenas avaliado relativamente à estética conseguida (Desempenho estética), mas avaliado de acordo com a sua participação na Qualidade Global do produto. O mesmo se aplica por exemplo aos fornecedores, que para além de fornecerem os produtos devem garantir a sua correcta aplicação, informar sobre as suas necessidades de manutenção ou até fornecer apoio formativo a nível de projecto, esforçando-se por desenvolver os seus materiais de acordo com as necessidades dos diversos intervenientes. A integração do processo e a criação de associações permite ainda a adopção de sistemas de distribuição de materiais mais controlados e organizados (adoptando-se sistemas de gestão logística adequados), contribuindo para a Qualidade Global que se exige.

Numa breve alusão à indústria automóvel, refere-se que a Nissan utiliza um sistema de gestão da cadeia de produção designado por QCDDM (já veremos o que significam as siglas), conhecido por estar entre os mais eficientes da actualidade. Controla todos os intervenientes baseando-se em 5 parâmetros: Quality, Cost, Delivery, Design e Management, num contexto de objectivos gradualmente mais exigentes. Baseado nestes 5 parâmetros este sistema reúne todos os meses informações de desempenho dos diferentes intervenientes, informando posteriormente cada interveniente sobre a sua prestação relativamente aos outros, criando-se uma competitividade pela excelência do desempenho. Mas afinal o que tanto distingue a indústria automóvel da indústria de Construção Civil?

Na verdade, na América, têm sido utilizados, por algumas empresas de construção, princípios de gestão designados por “Lean Thinking”, que provêm directamente da indústria automóvel (Lean Production é a generalização da Toyota Production System, reconhecida como o mais eficiente sistema de produção do mundo nos dias de hoje).
O ponto de partida deste sistema é o reconhecimento de que apenas uma pequena fracção do tempo e esforço de uma organização é que realmente contribui para uma mais valia do produto final. Definindo-se claramente aquilo que representa valor num determinado produto ou serviço, numa perspectiva do consumidor final, torna-se possível a definição de estratégias de eliminação gradual de todas as tarefas que não representam esse valor. Num contexto de uma cadeia de produção em que participam diversos intervenientes surge o conceito de “value stream”, que valoriza a criação de relações entre intervenientes valorizando a eliminação de perdas inter-intervenientes e a gestão da cadeia de valor como um todo. Em vez de se gerir a linha de produção em torno de diversos departamentos, reorganiza-se essa linha de produção para que ela flua por entre fases sucessivas de valorização, recorrendo-se a uso de ferramentas e técnicas que eliminem os obstáculos ao livre fluxo da linha de produção. A principal preocupação de todos os intervenientes é controlar esse fluxo, puxando o produto para as fases seguintes de produção apenas na altura pré-determinada.


Vincent vang Gogh


"O caminho nem sempre é fácil de percorrer, mas um dia olharemos os nossos sapatos com afeição",

by António Aguiar da Costa


Uma imagem:


domingo, outubro 01, 2006

Breves

Viaduto colapsou no Canadá.


Construído há 35 anos tinha sido inspeccionado o ano passado.
As razões do colapso estão ainda a ser averiguadas, esperemos por novas informações.

Link1 (site Internacional)

Link2 (site Português)