quarta-feira, março 28, 2007

OTA


Parece que tudo vai ficar como está.
Uma notícia recente refere que "mudar a localização do novo aeroporto obrigaria a renegociar o projecto desde a estaca zero com a Comissão Europeia". Aparentemente a negociação sobre o novo aeroporto, neste momento, não se baseia na razão, mas sim numa "máquina" que já foi posta a funcionar e que parece difícil de parar.


Trinta anos para escolher um aeroporto é muito tempo. Mas talvez seja pouco quando os estudos são feitos entre duas possibilidades pouco unânimes, e quando o critério de exclusão de uma delas (Rio Frio), parece ser exclusivamente ambiental, se bem que com impactos pouco precisos (referia-se como maior impacto o abate de sobreiros, no entanto quando surgem outras possibilidades de implantação que evitam estes abates a questão parece diluir-se "noutros impactos").


Parece-me que o turismo vai perder. Lisboa também. A ambição de criar um hub Ibérico em Portugal, gerará imensas receitas, mas para aqueles que explorarão a OTA (e que na sua maioria não serão empresas públicas). O turismo que um hub representa poderá não ser muito significativo, tendo em conta que o seu objectivo é essencialmente a transferência de passageiros entre rotas aéreas. Então quando a distância desse aeroporto à capital é tão significativa como a da OTA a Lisboa, inibirá certamente aqueles que podem ter curiosidade em dar um "salto" à cidade.


O governo refere que o investimento público vai ser reduzido. Esperemos bem que sim. Mas uma coisa também me parece, o lucro público também se encaminha para ser reduzido, tendo em conta que os privados se preparam para explorar o aeroporto.


Neste momento, e para que depois não seja tarde demais, é importante começar a discutir proposta de investimentos, estratégias de rentabilização, políticas de governança do sistema aeroportuário, para que, como muitas vezes acontece, o ganhos não fiquem nos bolsos de alguns, daqueles que sabem lidar com a "máquina".


Como último alerta gostaria de lembrar que, este grande investimento, que está a ser visto como uma esperança de recuperação para o sector da Engenharia, poderá efectivamente sê-lo, mas se não for bem gerido, sê-lo-á apenas a curto prazo. Digo isto baseado na análise da evolução do sector da Construção desde que a União Europeia tentou ajudar Portugal através dos fundos comunitários. O aproveitamento foi bastante ineficaz, quase funcionou como uma esmola que não conseguiu dinamizar orgânicamente o sector, aumentar a sua produtividade, modernização e competitividade.



Fonte: Groningen Growth and Development Centre, 60-Industry Database, October 2005,
http://www.ggdc.net/



Fonte: Groningen Growth and Development Centre, 60-Industry Database, October 2005, http://www.ggdc.net/


Veja-se no primeiro gráfico que o sector da Construção teve uma evolução significativa ao nível do Valor Acrescentado Bruto desde que Portugal foi um dos países previlegiados no que diz respeito à recepção de fundos comunitários (1991). Esta evoluçaõ positiva deveu-se essencialmente ao investimento em obras públicas.
Em 2001, a abertura da União Europeia a novos países diminuiu o acesso a fundos e a Construção teve uma quebra significativa, que ainda hoje continua a verificar-se. Provou-se, de certa forma, que a evolução precedente foi pouco sustentada e sem estratégia.

Efectivamente a Produtividade desde 1991(ver segundo gráfico) foi pouco alterada, pelo menos no que concerne à discrepância com outros países desenvolvidos. A competitividade não foi estimulada, a qualificação da mão-de-obra não melhorou e o sector manteve-se sempre frágil.

O alerta vai para o futuro, para que este investimento nã OTA não seja mais uma forma fácil de recompor o sector e a economia do País, mas que contribuia para uma melhoria significativa da produtividade, modernização e competitividade internacional da indústria.



António Aguiar da Costa

2 comentários:

Anónimo disse...

O assunto "OTA" para mim já é um motivo de boa disposição! Qualquer jornalista, político, comentador, colunista, professor, empregado de balcão, turista, aviador, catedrático, etc, etc, etc, tem que ter uma opinião. E a piada está em que nenhuma condiz...

Anónimo disse...

É com satisfação que tenho assistido a uma discussão generalizada e centralizada nos especialistas.
Parto do pressuposto de qualquer solução a adoptar deverá ter um razoável consenso técnico, o que ainda não se vislumbrou para a ota. Desconheço se qualquer uma das soluções alternativas será melhor que a ota, mas o que me parece é que a discussão pública das mesmas resultará numa solução com maior qualidade.

P.S. É claro que a diversidade de opiniões se traduz em substracto humorístico. No entanto, não devemos esquecer que é a "confusão" que esta diversidade cria, que serve por vezes de justificação, supostamente pragmática, para que se avance para obra.