Governo insiste na criação de portagens nas cidades
O secretário de Estado do Ambiente assume que o Governo está disponível para reforçar o diálogo com a Associação Nacional de Municípios no sentido de promover a introdução de portagens nas cidades, uma via que Humberto Rosa considera "promissora". In Jornal de Negócios
A política de transportes actual tem denotado, na minha opinião, algumas decisões precipitadas. A questão da OTA, do TGV, agora esta vontade do Governo de criar portagens nas cidades, todas decisões com carácter pouco visionário e pouco criativas.
Criativas? Dirão os leitores que o Governo não deve andar a inventar, que há exemplos bem consolidados de evolução que devem ser seguidos. A minha perspectiva é que o mundo actual tem apresentado mudanças intensas nos últimos anos, que me fazem crer que muitos conceitos terão que ser reinventados, e neste campo a criatividade e a ousadia serão as mais valias do futuro.
Vejamos por exemplo o fenómeno da globalização, que permite que muitas das empresas possam requerer serviços de outsourcing fornecidos pela Índia ou a China, algo que outrora estava fora de questão. Estas empresas estão efectivamente a aproveitar os conceitos mais actuais de globalização e inovação tecnológica. Conseguem manter o contacto com equipas de trabalho colaboradoras, a milhares e milhares de quilómetros, utilizando sistemas de videoconferência avançados, redes intranet e portais de comunicação. Estas empresas são caracterizadas pela ousadia e inovação e estão a colocar-se entre as mais rentáveis e dinâmicas empresas da actualidade.
A questão que queria realçar é que, uma linha de TGV entre Lisboa e Porto, que reduz o percurso em 1hora apenas terá, quanto a mim, uma utilização restrita a executivos ou classe alta, tendo em conta que o aumento de preços é de mais do dobro.
Ora, no que diz respeito aos executivos, julgo que a aposta devia ser nas tecnologias de informação, infraestruturas de redes avançadas, no desenvolvimento de redes de banda larga consistentes e rápidas, que permitiriam o contacto profissional e científico não só entre Lisboa e Porto, mas entre qualquer local do mundo, como acontece já para as empresas internacionais mais modernas.
Por outro lado, tenho dificuldade em compreender que esta “hora” ganha na viagem possa vir a amortizar o investimento global do TGV.
A respeito da notícia que abre este post (“Governo insiste na criação de portagens nas cidades”), parece-me que representa uma necessidade extrema de mostrar trabalho feito por parte dos responsáveis. Avalio esta proposta como sendo fraca, começando até pela simples razão de não ter previsto os comentários óbvios e oportunos que referem a injustiça da aplicação de uma medida deste tipo sem que as condições alternativas existam, como proferiu prontamente o presidente da Câmara Municipal do Porto.
Acrescento que uma medida deste tipo teria, na minha óptica, consequências indirectas gravosas em termos sociais. Esta medida afecta apenas quem tem dificuldades económicas e por outro lado, obrigaria mais gente a ir viver para fora do centro da cidade, pois penso que esta medida valorizaria as casas do centro, que se tornariam menos acessíveis àqueles que têm mais dificuldades e que, mais uma vez, seriam prejudicados vendo-se obrigados a procurar casa nos arredores.
Esta medida funciona apenas como mais uma taxa que apenas diminui o nível de vida das pessoas, e que se paga do mesmo bolso que paga todas as outras taxas, que são cada vez mais inconsequentes e voláteis.
O secretário de Estado do Ambiente assume que o Governo está disponível para reforçar o diálogo com a Associação Nacional de Municípios no sentido de promover a introdução de portagens nas cidades, uma via que Humberto Rosa considera "promissora". In Jornal de Negócios
A política de transportes actual tem denotado, na minha opinião, algumas decisões precipitadas. A questão da OTA, do TGV, agora esta vontade do Governo de criar portagens nas cidades, todas decisões com carácter pouco visionário e pouco criativas.
Criativas? Dirão os leitores que o Governo não deve andar a inventar, que há exemplos bem consolidados de evolução que devem ser seguidos. A minha perspectiva é que o mundo actual tem apresentado mudanças intensas nos últimos anos, que me fazem crer que muitos conceitos terão que ser reinventados, e neste campo a criatividade e a ousadia serão as mais valias do futuro.
Vejamos por exemplo o fenómeno da globalização, que permite que muitas das empresas possam requerer serviços de outsourcing fornecidos pela Índia ou a China, algo que outrora estava fora de questão. Estas empresas estão efectivamente a aproveitar os conceitos mais actuais de globalização e inovação tecnológica. Conseguem manter o contacto com equipas de trabalho colaboradoras, a milhares e milhares de quilómetros, utilizando sistemas de videoconferência avançados, redes intranet e portais de comunicação. Estas empresas são caracterizadas pela ousadia e inovação e estão a colocar-se entre as mais rentáveis e dinâmicas empresas da actualidade.
A questão que queria realçar é que, uma linha de TGV entre Lisboa e Porto, que reduz o percurso em 1hora apenas terá, quanto a mim, uma utilização restrita a executivos ou classe alta, tendo em conta que o aumento de preços é de mais do dobro.
Ora, no que diz respeito aos executivos, julgo que a aposta devia ser nas tecnologias de informação, infraestruturas de redes avançadas, no desenvolvimento de redes de banda larga consistentes e rápidas, que permitiriam o contacto profissional e científico não só entre Lisboa e Porto, mas entre qualquer local do mundo, como acontece já para as empresas internacionais mais modernas.
Por outro lado, tenho dificuldade em compreender que esta “hora” ganha na viagem possa vir a amortizar o investimento global do TGV.
A respeito da notícia que abre este post (“Governo insiste na criação de portagens nas cidades”), parece-me que representa uma necessidade extrema de mostrar trabalho feito por parte dos responsáveis. Avalio esta proposta como sendo fraca, começando até pela simples razão de não ter previsto os comentários óbvios e oportunos que referem a injustiça da aplicação de uma medida deste tipo sem que as condições alternativas existam, como proferiu prontamente o presidente da Câmara Municipal do Porto.
Acrescento que uma medida deste tipo teria, na minha óptica, consequências indirectas gravosas em termos sociais. Esta medida afecta apenas quem tem dificuldades económicas e por outro lado, obrigaria mais gente a ir viver para fora do centro da cidade, pois penso que esta medida valorizaria as casas do centro, que se tornariam menos acessíveis àqueles que têm mais dificuldades e que, mais uma vez, seriam prejudicados vendo-se obrigados a procurar casa nos arredores.
Esta medida funciona apenas como mais uma taxa que apenas diminui o nível de vida das pessoas, e que se paga do mesmo bolso que paga todas as outras taxas, que são cada vez mais inconsequentes e voláteis.
Ainda a este respeito gostaria de salientar o estudo sobre Mobilidade Urbana, realizado sob a alçado da BCSD Portugal, onde se torna evidente que a introdução de portagens à entrada das cidades é uma medida bastante questionável (veja-se gráfico abaixo).
Fonte: Publicação Mobilidade Urbana Sustentável (BCSD Portugal)
Apesar de tudo isto sinto-me optimista pois acredito que aos poucos a sociedade saberá reconhecer a importância de encarar as oportunidades emergentes, e as empresas serão cada vez mais o motor de uma sociedade mais inteligente, global e ao mesmo tempo saudável, sabendo utilizar o conhecimento de milhares de anos de existência para seu próprio conforto.
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António Aguiar da Costa
7 comentários:
Não será de acreditar que os residentes no centro da cidade terão cartão de Livre Transito?
A3C
Talvez, mas o que acaba por acontecer é que as casa do centro vão valorizar-se e tornar-se ainda mais proibitivas em termos económicos para quem tem menos poder económico.
Ou seja, quem vai ter esses passes de livre trânsito será, na maior parte dos casos, quem menos precisa (quem pode comprar casa no centro). Daí considerar esta medida injusta e por isso ineficaz.
Concordo contigo no que se refere ao TGV. Também não me parece que a mais valia associada ao ganho de uma hora na viagem entre P e L chegue a compensar o custo de investimento desse trecho de TGV e o custo que passa a ter para o utilizador. Até porque esses tais executivos acabam por ir de avião, quando o tempo de viagem é realmente importante. Já as portagens urbanas são, na minha opinião, uma necessidade a médio longo prazo, por vários factores, desde ambientais, mas sobretudo económicos. Casos de cidades com sistemas mais ou menos sofisticados (como o Electronic Road Pricing de Singapura ou a taxa fixa de entrada em determinado horario em Londres) têm mostrado o sucesso destas medidas. No entanto, condição essencial à boa aceitação e à maior equidade social e, de resto, lógica (!) é a disponibilização de alternativas de transporte mais eficientes (um exímio sistema de Transportes Públicos). O 1º investimento tem de ser esse. E em Portugal, talvez só se justifique em Lisboa, pelo menos para já..
Sobre a Mobilidade Urbana Sustentável recomendo uma visita ao BCSD em http://www.bcsdportugal.org/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=370
Hbaptista o link que recomendou é bastante interessante. De realçar o inquérito realizado, concretamente uma das perguntas abordadas: "O que o faria mudar para Transporte Colectivo?". As respostas respectivas demonstram a pouca capacidade persuasiva das portagens à entrada das cidades. (coloquei o gráfico das respostas a este pergunta no post)
Caro António,
Quero felicitá-lo por este post.
Como compreenderá, as TICs vão deslocalizar boa parte da mão de obra qualificada para fora dos centros urbanos: A rede pública de banda larga, o baixo custo e a qualidade de vida do interior de Portugal estão a ser um atractivo para o exodo urbano.
Na minha óptica, o problema está a montante: Que condições terá o interior para responder a este desafio.
Um abraço
Frederico
PS: As àreas metropolitanas portuguesas já perderam 3% da sua população desde os últimos censos, isto é, 120 mil pessoas.
Frederico, obrigado pelo comentário.
Quanto à questão que é levantada, julgo que é da maior importância. A capacidade de tornar "plana" a comunicação obriga a que existam uma série de infraestruturas, não só no interior do país,mas por todo Portugal.
Incentivar a difusão da banda larga e das TIC deve ser uma prioridade.
Por outro lado, ao permitir-se uma maior liberdade em termos de localização das empresas, e dos seus profissionais, as localizações mais atractivas serão as que possuírem não só boas infraestruturas tecnológicas, que permitirem boa qualidade de vida, mas também as que consigam criar pólos de desenvolvimento atractivos. Na minha opinião, a aposta não deverá ser a deslocalização de pessoas mas a deslocalização de núcleos, o que obriga à criação de condições específicas de trabalho, por parte das regiões receptoras.
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