terça-feira, outubro 03, 2006

Gestão? Qual Gestão?

Sistemas de Gestão integrada

Actualmente os projectos mais bem sucedidos são alcançados através de um processo construtivo não fragmentado, focalizado nas necessidades do cliente e desenvolvendo o produto apenas nos aspectos que poderão significar um valor acrescentado para o cliente (“Value Management”), abrangendo uma preocupação com sustentabilidade e o ambiente.
A indústria da construção funciona normalmente como uma sequência de operações separadas, executadas por projectistas, construtores e fornecedores, que muitas vezes não apresentam relações de responsabilidade entre si no que diz respeito ao desenvolvimento do valor do produto e da eliminação de perdas, tornando-se o sistema de produção pouco eficiente e algumas vezes pouco coerente.
Cada interveniente visa melhorar o desempenho da sua tarefa, mas nem sempre o desempenho global. Urge mudar-se esta mentalidade. A cadeia de produção deve ser integrada em torno de uma valorização do produto e optimização do processo, através de associações bem definidas entre os diversos intervenientes, numa consciência de obtenção de rentabilidade e competitividade, em que o cliente deve também sair beneficiado. A integração da cadeia de produção obriga que haja uma consciencialização da importância das parcerias e associações entre intervenientes e da necessidade crescente de estímulo para a criação de relações abertas e comprometidas com o desenvolvimento. Uma equipa que não trabalha unida com alguma regularidade apresenta obvias dificuldades de aprendizagem e a sua capacidade de mudança e inovação é praticamente inexistente numa estratégia a médio/longo prazo.
Deve notar-se que, para se conseguir que a cadeia tenha um desenvolvimento transversal ao longo dos seus intervenientes, para que todos assumam responsabilidades na Qualidade Global do produto entregue ao cliente, devem existir contínuas avaliações de performance dos diferentes intervenientes, que sejam eficazes, transparentes e focados sempre na Qualidade Global. O trabalho de um arquitecto não deve ser apenas avaliado relativamente à estética conseguida (Desempenho estética), mas avaliado de acordo com a sua participação na Qualidade Global do produto. O mesmo se aplica por exemplo aos fornecedores, que para além de fornecerem os produtos devem garantir a sua correcta aplicação, informar sobre as suas necessidades de manutenção ou até fornecer apoio formativo a nível de projecto, esforçando-se por desenvolver os seus materiais de acordo com as necessidades dos diversos intervenientes. A integração do processo e a criação de associações permite ainda a adopção de sistemas de distribuição de materiais mais controlados e organizados (adoptando-se sistemas de gestão logística adequados), contribuindo para a Qualidade Global que se exige.

Numa breve alusão à indústria automóvel, refere-se que a Nissan utiliza um sistema de gestão da cadeia de produção designado por QCDDM (já veremos o que significam as siglas), conhecido por estar entre os mais eficientes da actualidade. Controla todos os intervenientes baseando-se em 5 parâmetros: Quality, Cost, Delivery, Design e Management, num contexto de objectivos gradualmente mais exigentes. Baseado nestes 5 parâmetros este sistema reúne todos os meses informações de desempenho dos diferentes intervenientes, informando posteriormente cada interveniente sobre a sua prestação relativamente aos outros, criando-se uma competitividade pela excelência do desempenho. Mas afinal o que tanto distingue a indústria automóvel da indústria de Construção Civil?

Na verdade, na América, têm sido utilizados, por algumas empresas de construção, princípios de gestão designados por “Lean Thinking”, que provêm directamente da indústria automóvel (Lean Production é a generalização da Toyota Production System, reconhecida como o mais eficiente sistema de produção do mundo nos dias de hoje).
O ponto de partida deste sistema é o reconhecimento de que apenas uma pequena fracção do tempo e esforço de uma organização é que realmente contribui para uma mais valia do produto final. Definindo-se claramente aquilo que representa valor num determinado produto ou serviço, numa perspectiva do consumidor final, torna-se possível a definição de estratégias de eliminação gradual de todas as tarefas que não representam esse valor. Num contexto de uma cadeia de produção em que participam diversos intervenientes surge o conceito de “value stream”, que valoriza a criação de relações entre intervenientes valorizando a eliminação de perdas inter-intervenientes e a gestão da cadeia de valor como um todo. Em vez de se gerir a linha de produção em torno de diversos departamentos, reorganiza-se essa linha de produção para que ela flua por entre fases sucessivas de valorização, recorrendo-se a uso de ferramentas e técnicas que eliminem os obstáculos ao livre fluxo da linha de produção. A principal preocupação de todos os intervenientes é controlar esse fluxo, puxando o produto para as fases seguintes de produção apenas na altura pré-determinada.


Vincent vang Gogh


"O caminho nem sempre é fácil de percorrer, mas um dia olharemos os nossos sapatos com afeição",

by António Aguiar da Costa


1 comentário:

Anónimo disse...

O grande problema na implementação destas medidas em Portugal é, na minha opinião, a passagem que se faz da universidade para o mercado de trabalho. Nas universidades somos bombardeados com teorias de optimização e processos matemáticos que pura e simplesmente nunca chegamos a implementar. Isto deve-se a que quando entramos numa empresa, e quanto maior ela for, em regra geral somos superiorizados por alguém com muitos anos de casa e que também em regra geral está pouco receptivo a mudanças. Coclusão: é melhor trabalhar para pequenas empresas nacionais, grandes empresas estrangeiras ou formar uma empresa própria.