Contribuição para o SmartEngineering de Eduardo Vivas, aluno de Doutoramento em Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
As Secas, embora comecem a assumir alguma importância ao nível da Gestão dos Recursos Hídricos, continuam a não ser totalmente consideradas como um desastre natural, muito provavelmente pelos seus efeitos não imediatos(= mediáticos).
De facto, de entre todos os fenómenos naturais, de cariz meteorológico, as Secas distinguem-se pelo seu lento mas progressivo desenvolvimento, pela sua duração que pode variar de vários meses até alguns anos e até pela área afectada, que resulta normalmente superior. Segundo os dados do relatório mundial da UNESCO – Water a Shared Responsability, concluído em 2005, os danos e prejuízos resultantes de situações de seca, chegam mesmo a exceder as consequências de outros fenómenos naturais, sendo também o tipo de evento natural em que a percentagem relativa de pessoas afectadas surge mais destacada.
À ocorrência cada vez mais frequente de anomalias das condições de precipitação, mais ou menos prolongadas, junta-se uma utilização crescente do recurso Água, para as diversas actividades humanas, aumentando claramente a vulnerabilidade da Sociedade Civil às situações de Seca. Tal facto tende a resultar em consequências de índole económica e ambiental bastante significativas, realçando-se o caso de actividades como a agricultura que, sendo o principal sector utilizador de água a nível nacional (cerca de 75%), acaba por sofrer consequências económicas especialmente significativas em situações de escassez, resultando de uma forma directa para os agricultores, e indirecta para os consumidores (subida do preço dos produtos alimentares).
Face a todas estas condicionantes, torna-se urgente que a gestão de situações de Seca passe a ser encarada segundo uma política de maior prevenção e previsão, focada no risco associado, e complementando a gestão mais operacional que é (e continuará a ser) realizada em cenários de crise.
Nesse sentido, começam a surgir os primeiros Sistemas de Previsão e Alerta (os chamados Early Warning Systems) que procuram proporcionar alguma capacidade de previsão e um acompanhamento mais próximo das situações de Seca.
Como bom exemplo, a nível mundial, surge o caso dos E.U.A onde existe já uma elevada experiência nesta temática (destacando-se o trabalho desenvolvido pelo National Drought Mitigation Centre - http://drought.unl.edu/dm). Acaba por se revelar um modelo a seguir, não só na definição de políticas de gestão de Secas, mas também na aplicação dos referidos modelos de previsão e acompanhamento destas situações, tendo inclusivamente influenciado as principais orientações Europeias no arranque para a definição de uma política nesta matéria. De facto, ao nível da Europa apenas actualmente existe um maior alerta para esta problemática, sendo efectuada uma clara aposta numa Gestão mais pró-activa, versando os princípios de prevenção, previsão e preparação e na criação de Planos de Gestão de Secas, devidamente fundados nos referidos Sistemas de Previsão e Monitorização.
No caso específico Português, existe já um sistema de acompanhamento das situações de Seca (Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos – INAG, 2003), de âmbito nacional, desenvolvido e utilizado pelo INAG, Autoridade Nacional da Água. Este sistema, embora proporcione informação relevante tanto a nível meteorológico como hidrológico (níveis de escoamento em rios, albufeiras, águas subterrâneas, etc.) não permite, todavia, uma avaliação integrada do nível de severidade de Seca, o que acaba por dificultar o processo de tomada de decisão.
Na verdade, no Ano de 2005, muitas vezes nos era relatado nos meios de comunicação social que grande parte do território nacional estava perante uma situação de seca severa a extrema, quando na realidade não ocorreram impactos significativos para os principais sectores utilizadores.
Tal deveu-se ao facto de a informação que mais facilmente passou para o público em geral, referente ao índice meteorológico de Seca, ter essencialmente por base dados de precipitação, temperatura e de condições de humidade do solo, desprezando a capacidade de armazenamento existente nas albufeiras e águas subterrâneas, e que até acabou por se revelar capaz de superar, sem grandes dificuldades, as principais necessidades existentes.
Torna-se assim necessária a definição de um grau de severidade de Seca que atenda não só às condições meteorológicas, mas também à importância das reservas existentes e das utilizações a servir, impondo-se um maior desenvolvimento nesta matéria. Para isso, considerando a importância da utilização de indicadores no processo de Tomada de Decisão, bem como da criação de um conceito mais perceptível e mais consolidado de severidade de Seca, que facilite uma correcta sensibilização e consciencialização do público em geral, deverá ser assegurado o desenvolvimento de novos índices que permitam conjugar toda essa informação. Estes indicadores permitirão igualmente integrar um sistema de previsão e gestão de situações de Seca, tornando possível um acompanhamento mais consolidado das situações de Seca, com identificação dos níveis de severidade de seca e auxiliando a selecção de medidas mitigadoras respectivas.
Com um funcionamento integrado entre os Planos de Gestão de Seca, com um conjunto de acções e medidas devidamente previstas, segundo diferentes níveis de severidade de Seca e um sistema capaz de monitorizar de forma mais próxima do real os níveis de alerta e severidade de Seca, estaríamos a contribuir para que numa próxima situação de Seca o grau de preparação, e sobretudo de prevenção, possa ser superior, minimizando ainda mais as possíveis consequências e reduzindo o risco de escassez para as principais utilizações.
De qualquer forma, não obstante todo e qualquer desenvolvimento que se venha a realizar para uma gestão mais equilibrada de situações de Seca, é necessário que o cidadão comum (cada um de nós) tenha a noção do valor do recurso água, e da sua limitada disponibilidade. É preciso que todos tenhamos a consciência que, o simples facto de ter água ao abrir a torneira lá de casa, depende em grande medida da utilização (mais ou menos eficiente) que se faz deste recurso.
Para que não aconteça o cenário representado no spot divulgado no IV Fórum mundial da Água (ver em seguida), que teve lugar no México no passado mês de Março, promova-se uma utilização mais racional deste recurso!
De facto, de entre todos os fenómenos naturais, de cariz meteorológico, as Secas distinguem-se pelo seu lento mas progressivo desenvolvimento, pela sua duração que pode variar de vários meses até alguns anos e até pela área afectada, que resulta normalmente superior. Segundo os dados do relatório mundial da UNESCO – Water a Shared Responsability, concluído em 2005, os danos e prejuízos resultantes de situações de seca, chegam mesmo a exceder as consequências de outros fenómenos naturais, sendo também o tipo de evento natural em que a percentagem relativa de pessoas afectadas surge mais destacada.
À ocorrência cada vez mais frequente de anomalias das condições de precipitação, mais ou menos prolongadas, junta-se uma utilização crescente do recurso Água, para as diversas actividades humanas, aumentando claramente a vulnerabilidade da Sociedade Civil às situações de Seca. Tal facto tende a resultar em consequências de índole económica e ambiental bastante significativas, realçando-se o caso de actividades como a agricultura que, sendo o principal sector utilizador de água a nível nacional (cerca de 75%), acaba por sofrer consequências económicas especialmente significativas em situações de escassez, resultando de uma forma directa para os agricultores, e indirecta para os consumidores (subida do preço dos produtos alimentares).
Face a todas estas condicionantes, torna-se urgente que a gestão de situações de Seca passe a ser encarada segundo uma política de maior prevenção e previsão, focada no risco associado, e complementando a gestão mais operacional que é (e continuará a ser) realizada em cenários de crise.
Nesse sentido, começam a surgir os primeiros Sistemas de Previsão e Alerta (os chamados Early Warning Systems) que procuram proporcionar alguma capacidade de previsão e um acompanhamento mais próximo das situações de Seca.
Como bom exemplo, a nível mundial, surge o caso dos E.U.A onde existe já uma elevada experiência nesta temática (destacando-se o trabalho desenvolvido pelo National Drought Mitigation Centre - http://drought.unl.edu/dm). Acaba por se revelar um modelo a seguir, não só na definição de políticas de gestão de Secas, mas também na aplicação dos referidos modelos de previsão e acompanhamento destas situações, tendo inclusivamente influenciado as principais orientações Europeias no arranque para a definição de uma política nesta matéria. De facto, ao nível da Europa apenas actualmente existe um maior alerta para esta problemática, sendo efectuada uma clara aposta numa Gestão mais pró-activa, versando os princípios de prevenção, previsão e preparação e na criação de Planos de Gestão de Secas, devidamente fundados nos referidos Sistemas de Previsão e Monitorização.
No caso específico Português, existe já um sistema de acompanhamento das situações de Seca (Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos – INAG, 2003), de âmbito nacional, desenvolvido e utilizado pelo INAG, Autoridade Nacional da Água. Este sistema, embora proporcione informação relevante tanto a nível meteorológico como hidrológico (níveis de escoamento em rios, albufeiras, águas subterrâneas, etc.) não permite, todavia, uma avaliação integrada do nível de severidade de Seca, o que acaba por dificultar o processo de tomada de decisão.
Na verdade, no Ano de 2005, muitas vezes nos era relatado nos meios de comunicação social que grande parte do território nacional estava perante uma situação de seca severa a extrema, quando na realidade não ocorreram impactos significativos para os principais sectores utilizadores.
Tal deveu-se ao facto de a informação que mais facilmente passou para o público em geral, referente ao índice meteorológico de Seca, ter essencialmente por base dados de precipitação, temperatura e de condições de humidade do solo, desprezando a capacidade de armazenamento existente nas albufeiras e águas subterrâneas, e que até acabou por se revelar capaz de superar, sem grandes dificuldades, as principais necessidades existentes.
Torna-se assim necessária a definição de um grau de severidade de Seca que atenda não só às condições meteorológicas, mas também à importância das reservas existentes e das utilizações a servir, impondo-se um maior desenvolvimento nesta matéria. Para isso, considerando a importância da utilização de indicadores no processo de Tomada de Decisão, bem como da criação de um conceito mais perceptível e mais consolidado de severidade de Seca, que facilite uma correcta sensibilização e consciencialização do público em geral, deverá ser assegurado o desenvolvimento de novos índices que permitam conjugar toda essa informação. Estes indicadores permitirão igualmente integrar um sistema de previsão e gestão de situações de Seca, tornando possível um acompanhamento mais consolidado das situações de Seca, com identificação dos níveis de severidade de seca e auxiliando a selecção de medidas mitigadoras respectivas.
Com um funcionamento integrado entre os Planos de Gestão de Seca, com um conjunto de acções e medidas devidamente previstas, segundo diferentes níveis de severidade de Seca e um sistema capaz de monitorizar de forma mais próxima do real os níveis de alerta e severidade de Seca, estaríamos a contribuir para que numa próxima situação de Seca o grau de preparação, e sobretudo de prevenção, possa ser superior, minimizando ainda mais as possíveis consequências e reduzindo o risco de escassez para as principais utilizações.
De qualquer forma, não obstante todo e qualquer desenvolvimento que se venha a realizar para uma gestão mais equilibrada de situações de Seca, é necessário que o cidadão comum (cada um de nós) tenha a noção do valor do recurso água, e da sua limitada disponibilidade. É preciso que todos tenhamos a consciência que, o simples facto de ter água ao abrir a torneira lá de casa, depende em grande medida da utilização (mais ou menos eficiente) que se faz deste recurso.
Para que não aconteça o cenário representado no spot divulgado no IV Fórum mundial da Água (ver em seguida), que teve lugar no México no passado mês de Março, promova-se uma utilização mais racional deste recurso!
3 comentários:
Caro Eduardo,
Gostei bastante da participação. A água, tal como a energia, é um bem natural, disponível em quantidade limitada na natureza. Portanto não podemos esquecer que à medida que a população mundial aumenta, estes recursos não o fazem e como tal, a relação recurso/pessoa baixa constantemente. Desta forma, a minha visão sobre a energia é mais ou menos a sua visão sobre o recurso água: utilizar bem para utilizar mais tempo..É de minha opinião que Portugal neste momento já tem cidadãos preocupados em quantidade suficiente para que a nossa situação começe a ver o rumo invertido. Este blog é um bom exemplo disso!
Cumprimentos
O que é interessante é que realmente começa a surgir uma nova forma de encarar os problemas, que, como o Hbaptista referiu, é comum às mais diversas áreas.
É esta nova forma de fazer engenharia que indentifico por Smart Engineering, e que se pretende desenvolver neste Blog.
As exigências são cada vez maiores,as preoucupações mais evidentes, as possibilidades de optimização superiores. A Engenharia deve,por isso, libertar-se um pouco da tradição, deixar de ser obcessivamente técnica, e passar a pensar o Mundo de uma forma mais exigente.
Caros Hbaptista e António Aguiar da Costa
Desde já agradeço os vossos comentários ao Post sobre os possíveis Contributos para a Gestão de Situações de Seca.
Concordo com as ilações que retiraram e acima de tudo partilho a visão de que é preciso mudar a forma de pensar e agir na Engenharia, salientando tal como o Hbaptista o referiu e muito bem, que já existem pessoas suficientemente alertas no "nosso Portugal" para que se dê início a essa mudança.
Agradeço a oportunidade que me foi concedida para contribuir para este Blog e fica a promessa de continuar a partilha de opiniões. O Smart Engineering é, de facto, uma boa ideia!
Cumprimentos
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