“Todos os anos são gastas centenas de toneladas de sal-gema para manter minimamente transitável a estrada da Torre, quando a neve cobre a Serra da Estrela a partir de Piornos.
Consequência dessas acções, ou talvez não, o facto é que estão a ser detectados níveis alarmantes de salinidade dos aquíferos mais próximos. (...) Tendo em conta que a água da serra é consumida por 43% da população Portuguesa, a associação sediada em Manteigas (Associação dos Amigos da Serra da Estrela) não duvida de que se trata de um problema grave e com reflexos sentidos dentro de umas décadas.” in Expresso
Esta notícia levanta uma questão importante que diz respeito ao constante acontecimento de situações deste género, em que a solução do problema acarreta consequências por vezes mais graves que o próprio problema.
Consequência dessas acções, ou talvez não, o facto é que estão a ser detectados níveis alarmantes de salinidade dos aquíferos mais próximos. (...) Tendo em conta que a água da serra é consumida por 43% da população Portuguesa, a associação sediada em Manteigas (Associação dos Amigos da Serra da Estrela) não duvida de que se trata de um problema grave e com reflexos sentidos dentro de umas décadas.” in Expresso
Esta notícia levanta uma questão importante que diz respeito ao constante acontecimento de situações deste género, em que a solução do problema acarreta consequências por vezes mais graves que o próprio problema.
O processo normal de actuação na resolução de um problema, é proceder à busca de uma solução que resolva esse problema de forma directa.
Neste caso concreto, o problema que surgiu foi a deposição de neve sobre a estrada e a consequente impossibilidade de continuar a executar a função para a qual foi concebida, e a solução encontrada foi o lançamento de sal sobre a estrada pelos limpa-neves.
Efectivamente o problema inicial fica resolvido, no entanto, este tipo de raciocínio leva a que a nova situação se torne descontrolada, menos previsível e, grande parte das vezes, não completamente resolvida.
Decidir o que fazer relativamente a um determinado problema não deve ser um acto isolado, apenas pensado com base nas suas consequências imediatas e directas.
Neste caso concreto, o problema que surgiu foi a deposição de neve sobre a estrada e a consequente impossibilidade de continuar a executar a função para a qual foi concebida, e a solução encontrada foi o lançamento de sal sobre a estrada pelos limpa-neves.
Efectivamente o problema inicial fica resolvido, no entanto, este tipo de raciocínio leva a que a nova situação se torne descontrolada, menos previsível e, grande parte das vezes, não completamente resolvida.
Decidir o que fazer relativamente a um determinado problema não deve ser um acto isolado, apenas pensado com base nas suas consequências imediatas e directas.
Por volta de 1940 já as forças armadas Americanas estavam sensibilizadas para este assunto, estimuladas pela sua expansão espacial, tendo desenvolvido uma técnica de análise de projectos que designaram por Failure Mode Effects Analisys. Posteriormente na década de 70 a indústria automóvel reconheceu a importância desta ferramenta e começou também a servir-se dela como método de análise de projectos e de processos.
O método de análise FMEA tem como principal objectivo a análise de projectos baseada nos modos de falha. Este método reivindica que todos os modos de falhas, seus efeitos e causas sejam identificados, fazendo-se a mesma análise para as possíveis soluções encontradas.
A análise FMEA deve abranger todo o processo de falha, sendo desejável a representação, para cada falha, de um esquema de propagação da mesma, que poderá até permitir prever consequências de falhas que, à primeira vista, não seriam equacionados, assim como prever acções de correcção ao nível das diversas fases de propagação da falha.
No âmbito de uma análise FMEA, não se tomam decisões sem que as consequências das novas situações sejam avaliadas, situação que, na notícia em causa, não foi, de modo nenhum, tida em conta.
A análise FMEA deve abranger todo o processo de falha, sendo desejável a representação, para cada falha, de um esquema de propagação da mesma, que poderá até permitir prever consequências de falhas que, à primeira vista, não seriam equacionados, assim como prever acções de correcção ao nível das diversas fases de propagação da falha.
No âmbito de uma análise FMEA, não se tomam decisões sem que as consequências das novas situações sejam avaliadas, situação que, na notícia em causa, não foi, de modo nenhum, tida em conta.
Não pretendo neste texto descrever de forma extensa este método de análise (poderá ficar para um futuro post), nem querer dizer que ele deveria ser aplicado a todas as decisões que se tomam, pois obviamente comporta estudos complexos e morosos, no entanto, pretendo evidenciar a importância de interiorizarmos o conceito, para, numa próxima vez, encontrarmos uma solução que não tenha consequências imprevisíveis e danosas, sem necessidade de isso acontecer.
Pensando, por exemplo, no caso dos Transportes, e nas grandes dificuldades que as pessoas têm para se deslocar nas cidades. A solução parece a todos ser o melhoramento dos meios, das redes, das infra-estruturas, o que é naturalmente importante, mas se tentarmos analisar as causas do problema, a forma como se originam os modos de falha e se propagam, talvez chegassemos a algumas outras conclusões relevantes,como sejam a necessidade de deslocalização de determinados serviços, de utilização mais intensa de novas tecnologias como meio de comunicação, de canalização de meios financeiros para outros pólos de desenvolvimento, situações que de uma maneira geral, contribuiriam para a efectiva diminuição de tráfego, em vez da opção por soluções de melhoramento de fluxo, que apesar de importantes a curto e médio prazo, não actuam sobre o tráfego, que, tendencialmente se prevê cada vez mais intenso, o que torna esta solução pouco sustentável.
3 comentários:
O exemplo apresentado neste post pode ser enquadrado nos mais diversos âmbitos do nosso quotidiano. Aplicando ao caso das Secas, por ex., o qual foi alvo de post próprio neste blog, é possível concluir facilmente que toda e qualquer solução para um determinado problema deverá ser convenientemente analisado e estudado quanto às suas potenciais consequências futuras. De facto, se para solucionar a falta de água para determinadas utilizações se optar pela criação de novas infraestruturas (como por ex. a criação de novas barragens ou de captações subterrâneas), poder-se-á estar a criar condições para que se gerem novas utilizações da água até aqui inexistentes pela limitada capacidade disponível. Esta dupla vertente das soluções adoptadas deverá ser, então, devidamente analisada caso a caso, atendendo sempre à sustentabilidade das mesmas. Para este caso, a melhor solução até poderá passar por um maior controlo das utilizações nas suas origens, evitando logo à partida um grande volume de investimento e potenciais consequências nefastas.
Penso que este tema tem ainda muito por onde desenvolver e caminha, no fundo, no sentido da gestão preventiva, seja do Recurso Água, ou de outro âmbito qualquer.
Eduardo, tocaste num ponto bastante relevante. A gestão preventiva, tal como disseste, vem efectivamente no seguimento dos métodos de análises de falhas que referi, pois uma análise baseada na discretização das falhas e da sua origem leva-nos inevitavelmente a uma maior preocupação com a sua prevenção.
Uma das áreas da Engenharia que trata este tema em profundidade, há já muitos anos, é a Engenharia industrial, no âmbito da manutenção do equipamento, tema que abordarei num futuro post.
Cá em Portugal ainda utilizam o sal? Para quê? Sempre que neva as estradas para a Torre ficam intransitáveis... Para quê o Centro de Limpeza de Neve ou os Limpa Neves?
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