Tradicionalmente, um projecto passa por várias fases e diversos intervenientes.
Desde o levantamento feito por topógrafos, o design do edifício por arquitectos, as especialidades (estabilidades, redes de águas, esgotos, eléctricas, telecomunicações e gás, para apenas mencionar as mais vulgares) e no fim as medições, para cada projecto é montada uma equipa multidisciplinar, com incumbências específicas, cujo trabalho de cada elemento influencia e é influenciado pelos outros elementos.
O método tradicional, herdado da prática analógica, consiste em fazer cada especialidade entrar num dado momento do projecto, recebendo o que vem de trás e informando os que estão a seguir.
Chamo a este método “o que vem a seguir que se amole”.
Basicamente, os erros e omissões vão passando de mão, na expectativa de alguém acabar por os resolver. Nem que seja o empreiteiro.
Cada especialista responsabiliza-se apenas pela sua parte, sem se preocupar excessivamente com a compatibilização entre os vários projectos.
Ao arquitecto cabe tradicionalmente o papel de coordenador, pelo menos na teoria. Com a crescente complexidade dos chamados projectos das especialidades, o arquitecto raramente tem conhecimento e oportunidade de realmente coordenar os trabalhos, delegando a compatibilização para os respectivos autores.
A própria velocidade a que os projectos têm que ser executados fazem com que os projectos sejam muito mais uma linha de montagem do que um trabalho de grupo.
Assim, problemas detectados numa fase avançada do projecto (por exemplo colisões entre a arquitectura e o AVAC) sejam extremamente difíceis de resolver sem pôr em causa os prazos de entrega.
O modelo único tridimensional do nosso edifício, associado a uma base de dados alfanumérica, partilhado por todos os intervenientes, propõe resolver este problema.
A ideia será que todas as especialidades irão partilhar uma base única, em constante aperfeiçoamento. O trabalho desenvolvido pelo arquitecto, desde a primeira fase de concepção, estará acessível aos diferentes engenheiros, que irão ajudar na procura de soluções. Os projectos serão todos correlacionados, de modo a garantir a sua total compatibilidade. A autoria será partilhada por todos, assim como a responsabilidade.
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- O arquitecto não quer prescindir do seu papel de coordenador. Dá prestígio.
Claro que a maioria destes problemas depende da formação cívica dos projectistas, mas a sua formação profissional também contribui para a aceitação, ou rejeição do modelo BIM.
Como exemplo, podemos ver o trabalho que está a ser feito do outro lado do mundo, na Universidade de New South Wales, pelo professor Jim Plume, conforme apresentado numa recente comunicação em Lisboa.
Os alunos dos vários cursos relacionados com a construção, planeamento, arquitectura, engenharias, paisagistas, orçamentistas e gestores de obra colaboram no mesmo projecto, simulando o (que deveria ser o) mundo real.
Se pensarmos como funcionam as nossas universidades, fechadas em capelinhas, depressa podemos concluir que o cenário em Portugal será bem diferente.
Por estes motivos, acho que implementar a interoperabilidade nos projectos será bem mais difícil que soletrar a palavra.