Segundo a Comissão para a sustentabilidade do Financiamento do Serviço Nacional de Saúde, o sector da Saúde em Portugal tem vindo a ser um dos protagonistas da despesa pública, representando já mais de 10% do Produto Interno Bruto (PIB).
Gráfico representativo de alguns valores das Despesas em saúde em 2003 (em % do GDP)
[i]A par deste valor excessivo da despesa com a saúde, verificam-se desequilíbrios ao nível organizacional, sendo um dos mais evidentes a incapacidade da estrutura do Serviço Nacional de Saúde para atender devidamente os doentes crónicos, que se estimam como sendo já quase um quarto da população total. O peso que os doentes crónicos têm nas urgências hospitalares é uma prova da falta de capacidade dos serviços para gerirem o tratamento destes pacientes, visto que apenas respondem de uma forma não contínua.
Num estudo realizado em 2004 no Hospital S. Francisco Xavier demonstrou-se que 72% dos doentes que recorrem à urgência por ano (1.792 pessoas) são admitidos por agudização de doenças crónicas.
É ainda de referir que em Portugal tem-se verificado um uso abusivo dos serviços de emergência, no sentido em que muitos dos pacientes que recorrem a este serviço deveriam ser tratados nas unidades de cuidados primários[ii].
A incapacidade de garantir a continuidade de cuidados da organização actual é uma fonte relevante de desperdício. As redes de cuidados continuados e de proximidade assumem-se como uma possível alternativa. A sustentabilidade do SNS depende da capacidade de transferir recursos do sector hospitalar para outros níveis de cuidados.
Ao nível da orgânica interna, os Hospitais têm tentado optimizar os seus processos, numa tentativa de diminuição de custos e optimização de produção. Alguns dos exemplos que se podem referir são os melhoramentos ao nível dos sistemas de informação e novas tecnologias e também a modernização das técnicas de gestão aplicadas à logística hospitalar (Hospital Logistics System), originalmente provenientes da indústria automóvel e agora adaptados ao serviço de saúde.
Ao nível das infra-estruturas o sistema não tem no entanto sofrido alterações significativas, verificando-se melhoramentos essencialmente ao nível do equipamento técnico, sem grandes consequências para a optimização dos serviços.
A construção de infra-estruturas hospitalares inteligentes, modernas e adequadas às novas mentalidades, deve ser uma das estratégias do futuro do sistema de saúde, visando a busca de uma mentalidade voltada para o paciente e sensibilizada para a necessidade de controlo do fluxo dos doentes e da informação.
No que diz respeito à modernização e renovação das infra-estruturas deve referir-se que o surgimento das Parcerias Público-Privado veio possibilitar uma maior dinâmica do mercado, estando previstos 10 novos hospitais, cujo consórcio privado deverá ter responsabilidades ao nível da concepção, projecto, construção e manutenção da infra-estrutura (30 anos) e ao nível dos serviços clínicos(10 anos) [iii]. Esta nova possibilidade será com certeza uma mais valia para a reforma necessária do sistema de saúde.
[i] World Health Organization, “World Health Statistics 2006”
[ii] Oliveira, Monica; 2002 “A flow demand model to predict hospital utilisation”, LSE Health and Social Care
[iii] Monteiro, Pedro Líbano; Vaz, Artur; “Uma parceria a 30 anos no âmbito do programa de parcerias público-privado na saúde”, 8º Congresso Nacional da Manutenção (Novembro de 2005)
António Aguiar da Costa
2 comentários:
Gostaria de lembrar ao colega (penso que será Engº), que o nosso País sofre do mal do desinvestimento na prevenção da doença (principal forma de poupar em saúde). Estou a falar com conhecimento de causa uma vez que não me dão os meios suficientes para fazer um bom trabalho.
Um Abraço
Caro Britt seria interessante conhecer um pouco melhor a sua causa, no sentido da divulgação do seu trabalho e das necessidades de investimento concretas.
Efectivamente reconheço que a prevenção deveria ser uma das prioridades,mas os seus efeitos são visíveis a prazos mais alargados do que um melhoramento do SNS.
Esta é a razão pela qual penso que a estratégia deve assentar em ambas as frentes mas com uma dinâmica a curto prazo mais evidente no que diz respeito ao SNS.
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